Independentemente da teoria da relatividade, a noção do tempo costuma muitas vezes variar conforme a área de conhecimento: a geologia, a genética, a psicologia, a história, o direito, a economia, a ciência política, a comunicação, por exemplo, podem ter distintas percepções da curta, da média e da longa duração. Em algumas áreas, é tal a percepção da passagem do tempo que alguns se referem à necessidade de prever o presente.
Pois bem, se adotarmos a escala da história, provavelmente nossas maiores rupturas teriam sido por um lado a Abolição da Escravatura, pelo menos simbolicamente, em que pese a persistência da discriminação e da marginalização da população negra ainda nos dias de hoje, e a experiência getulista. Esta última, seja em sua fase autoritária, seja em sua fase "democrática", próprias de uma "modernização conservadora" ou de uma "revolução pelo alto", simbolizou o trânsito de uma sociedade agroexportadora para uma sociedade industrial e, na expressão dos positivistas, o início da "incorporação do proletariado à sociedade moderna". Nessa perspectiva, tanto o governo Lula quanto o governo Dilma, embora reconhecendo inúmeros avanços sociais, ficam comparativamente pequenos, talvez sua real e verdadeira dimensão. Pretende-se aqui um juízo de realidade não um juízo de valor.
O exercício da política nos últimos anos no Brasil parece assim infelizmente dar razão aos chamados Maquiavélicos, importante escola de pensamento do século passado, em especial a Vilfredo Pareto com sua teoria da "circulação das elites": são elites que se substituem umas às outras, numa incessante troca, em que diferentes instrumentos podem ser utilizados, inclusive políticas sociais, até para legitimar o exercício momentâneo do poder.
Nesse contexto, o que pensar da soberania popular, sustentáculo da ideia democrática? Sejamos otimistas. Apesar das elites, pelo visto em constante renovação, circulação e substituição, a seguinte muitas vezes reproduzindo os hábitos e comportamentos da anterior, o país de qualquer forma avança por força do seu povo, das suas instituições, da consciência republicana, do debate público, dos meios de comunicação, e, por que não, também por força de seus políticos, mesmo daqueles que, embora pretendendo atender exclusivamente a seus próprios interesses particulares ou corporativos, são, de qualquer forma, minimamente obrigados a escutarem as demandas da sociedade.