Serenada a crise política com a definição do processo de impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer à presidência, sustentado por uma base parlamentar sólida, o Brasil volta a ter condições de promover as reformas necessárias à superação do mau momento econômico e à abertura de um novo ciclo de desenvolvimento. Mas ninguém pode se enganar, achando que tudo se resolve do dia para a noite. Muita coisa ainda precisa ser feita. A PEC do teto de gastos públicos é apenas uma espécie de pontapé inicial de um jogo duríssimo que fatalmente incluirá o enfrentamento de corporações poderosas, a correção de práticas políticas viciadas e a administração do temor natural das pessoas em época de mudanças.
Com potencial para se transformar em grande polêmica nacional, a reforma da Previdência está sendo anunciada como próximo movimento do governo pelo equilíbrio das contas públicas. Certamente vai consumir muito tempo e muita energia das lideranças do país. Mas não pode monopolizar o debate, pois o país precisa remover logo também outros entraves do desenvolvimento. São impostergáveis uma reforma administrativa que redimensione as estruturas governamentais e as tornem mais eficientes, e uma revisão radical no sistema político vigente, com foco no chamado governo de coalizão, gerador de deformações e da corrupção.
São muitas as frentes abertas por décadas de má gestão e de irresponsabilidade no trato da coisa pública. Ainda que o novo governo continue operando sob desconfiança de parcela expressiva da população, tem a vantagem sobre o anterior de contar com uma base de apoio parlamentar majoritária e com uma equipe econômica de reconhecida credibilidade. Espera-se, portanto, que não desperdice esta oportunidade histórica de recolocar o país no rumo certo.