Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, o ex-governador e ex-ministro Olívio Dutra, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, fez um verdadeiro desabafo criticando práticas políticas que levaram a agremiação à atual crise. O dirigente não poupou nem mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na sua avaliação "acabou protegendo gente que não tem nada a ver com o projeto de um partido de esquerda", e agora "filiados têm que dar explicações sobre coisas que vieram a saber depois".
De fato, por mais que a maioria dos dirigentes petistas resista em admitir, ignorando alertas até mesmo de correligionários compromissados com a ética, foi justamente a ênfase à política de compadrio, confundindo os interesses de Estado com os meramente partidários, que levou o PT a se confrontar com a maior de todas as suas encruzilhadas até agora. Preocupados com a perpetuação no poder, muitos de seus integrantes acabaram colocando as pretensões da militância acima das relacionadas ao bem comum, além de confundir descaradamente os limites do poder público com os de segmentos poderosos do setor privado. Em consequência de más escolhas e de agressões contumazes à ética, o partido que se orgulhava de ter surgido das bases permitiu que muitos de seus integrantes se envolvessem em corrupção e em gestões desastrosas, como a que culminou no afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Os crimes praticados por lideranças e membros oportunistas do partido, potencializados pela atuação da Lava-Jato, contribuíram para o brutal encolhimento da sigla no primeiro turno das eleições municipais. O desencanto com a política revelado nas urnas serve de alerta para outras siglas, mas fica evidente em relação ao PT, reforçando a opinião do ex-governador gaúcho de que "tem que levar mesmo uma lambada forte porque errou".