Passado o primeiro turno da eleição municipal, o Brasil vive uma reorganização de suas forças políticas. Mas o pleito não pode ser resumido às migrações de voto entre um e outro campo partidário. Para além da estatística, é possível constatar que o eleitor tentou exercitar a renovação ou até mesmo a negação da política tradicional. Inclusive quando optou por nomes conhecidos, o fez no contexto de uma rejeição geral ao status quo.
Esse é o recado mais claro e contundente das urnas. Mas erra quem pensa que, apenas por encarnar a nova política em sua retórica ou por ser um quadro novo, consiga consubstanciar a esperança. O eleitor também não quer uma maquiagem, pois identifica velhas práticas travestidas de novidade. Parece buscar uma mudança muito mais ampla e consistente.
Isso leva tempo. A própria sociedade ainda não identificou o contorno do novo padrão político que deseja, tampouco os especialistas. Os partidos, quanto menos – na maior parte dos casos, investem pouco em formação e agem com displicência na seleção de nomes. Os legisladores, de igual modo, não encontraram formas de estimular um ambiente político mais qualificado.
Noto, portanto, que a rejeição é global e generalizada. E, se assim, precisamos repensar nosso modelo de maneira igualmente global e generalizada. A população tem certeza do que rejeita: o atual estado das coisas na política. Logo, não há outro caminho senão a transformação profunda e urgente do sistema político-partidário brasileiro. Caso contrário, as instituições nacionais restarão cada vez mais abaladas. E, com elas, a própria democracia.
Chega de tantos partidos, especialmente das legendas de aluguel. Chega de concentrar poder demais na União, fazendo Estados e municípios padecerem à míngua, sem capacidade financeira. Chega de emendas individuais, de partidarização da administração, de fisiologismo e clientelismo. Chega de comodismo e incapacidade de dar respostas. Ou mudamos, ou teremos apenas mais do mesmo, no máximo com alguns destaques pontuais. Porque ninguém vence este sistema sozinho. Só reformas estruturais garantem o surgimento verdadeiro de uma nova política.