O filme "Fantástica fábrica de chocolates", de Tim Burton, é o que mais se assemelha à nossa campanha eleitoral. Como na promoção do filme de Wonka, cada candidato de direita é aquela criança ávida pela barra de chocolate – leia-se voto – que o levará a prefeitura. E da mesma forma que no filme, onde o que menos importa é o conhecimento das crianças de como é feito o chocolate, na eleição o que menos importa para a direita é o conhecimento de como funciona a cidade, mas como se reelabora a ideologia.
Todo o segredo da campanha política da direita está em como ela se dirige para as massas. Nela, os políticos brotam na propaganda de forma reluzente por "amor a Porto Alegre", "abraçando a cidade", típicos da sociedade do espetáculo que se move pelo marketing. Que a direita acredite que a propaganda é a alma do negócio, é natural; que a esquerda acredite nisso também, é uma temeridade.
A direita quer convencer a população cansada da política a votar nela pela overdose de exibição, como o chocolate que jorra na fantástica fábrica e que flui para o bosque. No filme, tudo é comestível como na campanha, onde a direita "come" projetos de esquerda e oculta quem é o representante dos empresários, quem é o representante do continuísmo e que candidatos hoje integram o governo que está aí. Nesse discurso ilusório, os políticos são como oompa-loompas que levam o cidadão para cenários mais improváveis: alguém acredita nessas insanas fantasias visuais em que candidatos pulam o muro que separa a rua das casas em busca do eleitor? É aí que se encontra a ideologia.
Ao contrário do filme, os candidatos não fracassam como as crianças do filme porque apresentam fraquezas morais, eles são vitoriosos justamente pela eficácia de suas promessas, é só olhar quem lidera as pesquisas. Mas cuidado, eleitor: nos discursos dos candidatos de direita ocultam-se, nas entrelinhas, as ameaças que cercam a administração da prefeitura pelos próximos anos: a redução dos investimentos, a privatização e a terceirização de serviços. Isso significa o aprofundamento do projeto de direita já em andamento no Estado.
A lição moral da eleição, diferente da do filme, é que vence aquele que joga com os símbolos da alienação capitalista, do afeto domesticado, da falsa promessa, da ocultação das origens e da negação da continuidade.