Nos últimos anos, tenho me dedicado a disseminar duas lógicas (startups e capital de risco) que têm um objetivo em comum: proporcionar o surgimento de grandes empresas inovadoras. Companhias que, ao mesmo tempo, gerem muito emprego, renda e transformem a sociedade, ofertando bens e serviços, antes indisponíveis, que resolvam problemas reais das pessoas.
Hoje, me questiono profundamente, ao perceber que quem transforma a sociedade no Brasil não são majoritariamente grandes empresas. Se analisarmos as principais corporações listadas no Ibovespa, percebemos que estão mais preocupadas com a manutenção de um status quo que não está funcionando para ninguém, nem para elas mesmas. Não estão inovando. Não estão entregando valor, de fato, para a sociedade.
Se não são as grandes empresas (e também me parece que não são as pequenas – sem recursos para tal), quem, afinal, inova no Brasil? Alguém há de ter tido um papel importante nas transformações sociais, culturais, tecnológicas e econômicas que aconteceram no Brasil desde a Independência, quase 200 anos atrás. Tendo a pensar que a resposta está em termos um olhar mais apreciativo para o que fazem governo, Sistema S, empresas médias e cooperativas.
Uma experiência marcante foi conhecer a história de três grandes cooperativas que trabalham com leite e derivados na região de Castro, no Paraná. Muita tecnologia desenvolvida localmente, inclusive com um centro de pesquisa agropecuária compartilhado entre as três. Produtores cooperados inovando em frentes muito diferentes, como automatização da ordenha, reciclagem de equipamentos, cogeração de energia e compostagem. Uma história longa de transformação social no território.
No mesmo município, encontrei uma associação de produtores de alimentos que está, agora, se transformando em cooperativa. Hoje, já são responsáveis por fornecer 100% da merenda das escolas locais com alimentos orgânicos. Agora, estão lançando um serviço de entrega de seus produtos diretamente ao consumidor.
O que nos impede de enxergar essas organizações como inovadoras é um ranço ideológico que existe de dois lados: quem trabalha com inovação se restringe ao mundo empresarial, e quem trabalha com outras formas de organização tem ojeriza a esse mundo empresarial. Isso precisa terminar se quisermos construir uma nação inovadora. Precisamos ter a capacidade de enxergar a verdadeira natureza da inovação que acontece aqui.