Recentemente, foi lançado no Brasil todo um movimento da sociedade civil criado para colocar o empreendedorismo em pauta nas eleições municipais. Os organizadores pretendem cativar candidatos a prefeito a dialogar com empreendedores, desburocratizar a atividade empresarial em seus municípios e abrir espaço para que empreendedores resolvam problemas das cidades.
Até aí, tudo ótimo. São três prioridades interessantes, e realmente vale a pena tentar inseri-las em um contexto eleitoral repleto de agendas ocultas e lobbies que operam por baixo dos panos.
O problema é que, ao fazê-lo, as organizações proponentes estão utilizando uma retórica, de geração de emprego e renda por meio do empreendedorismo, que caberia perfeitamente nos Estados Unidos do século 19 ou no Brasil do século 20.
Em 2016, não dá mais para pensar que o grande papel social do empreendedor é gerar milhares de empregos. O próprio conceito de empregabilidade está na berlinda no mundo todo. As relações de trabalho estão mudando rapidamente. A agregação de valor acontece, cada vez, em pequenas células (inclusive startups) que aplicam conhecimentos específicos.
Não podemos mais ter, como exemplo de sucesso, o filhinho de papai que abriu uma cadeia de fast food com lojas em todo Brasil e no Exterior. Ora, quem trabalha na famigerada empresa não tem perspectiva nenhuma além de ser um funcionário obediente que vende um amontoado de calorias que entra nos nossos corpos junto com substâncias que, tivéssemos nós consciência, não comeríamos. Dá para chamar isso tudo de qualquer coisa, menos de sucesso.
Precisamos, cada vez mais, observar empresas alemãs, britânicas, coreanas, japonesas – de até 200 funcionários – que compõem ecossistemas de inovação globais em complexas redes de agregação de valor. Ou pequenos negócios criativos, com missões sociais claras, que surgem em grande volume no mundo todo, inclusive no Brasil. Temos, ainda, as empresas que tomaram conscientemente a decisão de não ultrapassar determinado porte, como difunde o best-seller Small Giants. Em meio a tanta novidade, por que valorizar a velha narrativa do crescimento sem limites? Não foi ela, afinal, que nos trouxe até aqui?