Os próximos 40 dias serão provavelmente o intervalo político mais decisivo deste ano para a economia mundial. Anúncios, reuniões e eventos devem nortear o processo decisório a respeito do rumo da atividade produtiva em todos os quadrantes. A primeira notícia de peso foi dada na sexta-feira, pelo Departamento do Trabalho dos Estados Unidos: em agosto, a economia americana criou 151 mil novas vagas, abaixo das 275 mil surgidas no mês anterior e bem abaixo do previsto pelos analistas. O anúncio jogou água fria na Cúpula do G-20, aberta ontem em Hangzhou, China, e empenhada em buscar saídas para a estagnação mundial.
Washington aguardava com ansiedade a cifra de criação de empregos em agosto como um parâmetro para uma decisão de ampla repercussão: a possível elevação da taxa básica de juros pelo Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no próximo dia 21. A última elevação ocorreu em dezembro, e desde então o Fed pisou no freio diante dos sinais contraditórios da economia.
O desemprego nos Estados Unidos está estacionado em 4,9% pelo terceiro mês consecutivo. O número de desempregados, que chegou a 10 milhões no auge da Grande Recessão, em 2008, estabilizou-se em 2 milhões há muito tempo. Para muitos, esse é um sinal de que a atividade produtiva recuperou o fôlego e pode respirar sem os aparelhos da taxa de juros de 0,5%.
Mas essa é apenas parte da história. Os 151 mil empregos criados em agosto são o número mais baixo em quatro meses. O mercado apostava em pelo menos 180 mil novas vagas. E há o crítico componente eleitoral. O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, aproveitou o desempenho débil para fustigar a adversária democrata, Hillary Clinton, afirmando que as vagas criadas são efêmeras e não oferecem segurança aos empregados.
Em tese, um adiamento da elevação dos juros nos EUA seria positivo para o mundo emergente, incluindo o Brasil. Ativos desses países, considerados de alto risco pelas agências de avaliação, passam a ser atraentes para investidores diante da prolongada indecisão do Fed. Na sexta-feira, o Ibovespa fechou em alta de 2,37%, o mais elevado patamar em dois anos. Mas não há indícios de que esse movimento tenha consistência em médio prazo.
Nos dias 15 e 16 de outubro, os emergentes terão a sua hora da verdade na Cúpula dos Brics em Goa, na Índia. Será o momento de tratar da depressão nos preços das commodities, o anabolizante que sustentou o boom econômico dessas nações na década passada, mas que, desde então, perdeu o princípio ativo.