Sempre que o tema da tradição aparece na mídia, como foi o caso da matéria de ZH que há alguns dias recuperou a história da Tchê Music, reflito. Como artista que dedica a vida a esse "estilo", digamos assim, minha percepção sempre busca descobrir o porquê de nossa regionalidade não ser entendida como brasileira. Assistindo às cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas, também dei-me conta da ausência do Rio Grande do Sul entre as manifestações culturais apresentadas. Ao mesmo tempo em que me incomodou o fato, fiquei pensando, ao ouvir Asa branca, qual seria a canção gaúcha que qualquer brasileiro cantaria. Ou que qualquer gaúcho identificaria como sua.
Sensação parecida tive ao identificar uma cena da novela Velho Chico que interpretava (interpretar é diferente de representar) a Pega do Boi, tradição da cultura nordestina. Fiquei emocionada. E pensei: será que algum cearense está questionando se sua tradição está sendo fielmente apresentada? Lembro da minissérie A casa das sete mulheres: quantos gaúchos questionaram os nós de lenço ou o fato de as paisagens serem transferidas geograficamente sem pensar que tal produção usava nossa história como inspiração para uma obra ficcional.
Justiça, outra produção televisiva, deixa martelando na cabeça da gente: onde se passa essa história? O ouvido acostumado ao sotaque carioca na hora identificou o jeito de falar do Recife como diferente. Será que algum pernambucano achou caricato? Afinal, é o que sentimos quando ouvimos alguém representar um gaúcho nas telas, ou não?
Esses questionamentos nos mostram que não só o Brasil não reconhece a cultura gaúcha como parte de sua identidade, mas também nós, ao sermos tão fiscalizadores, tolhemos a espontaneidade dessa representação. Gosto de exercitar o mea culpa. E sigo refletindo antes da difícil conclusão. Sugiro o mesmo exercício a todos.