Esgotado o estoque de mágicas procrastinatórias utilizadas por seus antecessores, como o rendimento da inflação, os saques dos depósitos judiciais e venda de patrimônio, o governador José Ivo Sartori vem parcelando sucessivamente os vencimentos dos servidores do Executivo. Mesmo diante da revolta justificada dos trabalhadores, que não conseguem honrar seus compromissos, o governo alega que não tem de onde tirar dinheiro: a arrecadação caiu, os recursos oriundos do aumento de ICMS são insuficientes, os repasses federais diminuíram e a despesa com os demais poderes cresceu, devido aos reajustes que o governador tentou mas não conseguiu bloquear.
Não há dúvida de que Sartori está sendo autêntico e realista diante de uma situação catastrófica que não foi criada por ele, nem por seus antecessores mais recentes, mas sim pelo acúmulo de administrações perdulárias e incapazes de quebrar o ciclo vicioso do paternalismo estatal. Ainda assim, enquanto o país não sai da recessão e a arrecadação não volta a crescer, parece estar faltando ao governo um esforço maior para implementar medidas que atenuem o sacrifício imposto aos servidores.
Alguns exemplos: apressar a venda de imóveis inservíveis, enfrentando a burocracia e dando mais celeridade ao processo de regulamentação dos documentos necessários; vender ou desativar estatais e fundações de menor importância; agilizar os editais para a concessão de serviços à iniciativa privada; combater de forma mais efetiva a sonegação, com cobrança ou venda da parte sadia da dívida ativa; modernizar estruturas administrativas e redimensionar o quadro de servidores, inclusive nas áreas mais sensíveis, como o magistério; estender os cortes e parcelamentos aos demais poderes, de modo que o sacrifício compartilhado se torne mais suportável.
É o que se pode cobrar de um governo que, em um ano e meio de mandato, não fez outra coisa a não ser administrar – mal – a folha de pagamento dos servidores.