Teremos a oportunidade de acompanhar vários esportes na Olimpíada neste ano. Meu foco não é o futebol; prefiro outras modalidades, ainda que dentre elas não figure uma arte afro-brasileira.
Outrora luta fatal praticada por damas e cavalheiros, a esgrima impressiona com a precisão e o grau de frieza exibidos pelos combatentes. Floreios de florete são fenomenais: furtivamente representam a fatalidade do golpe. A espada corta aleatoriamente, assim como cortes de custos impensados ou como a lâmina da cega justiça. O regulamento serve para conter manobras absurdas de quem porta as armas, é assim também entre os pesos pesados que utilizam os punhos.
O boxe leva públicos ao delírio! Com um bom narrador, o pugilismo fica mais emocionante, "Um cruzado de direita fulminante, senhoras e senhores; atingiu o queixo de vidro do gigante que ora dormita, ora está atento e tem a vista obnubilada em virtude do golpe!". Adoro narrações mais eruditas, ou em outras línguas.
Judocas podem marcar pontos com um ippon. Derrubar oponentes de costas no tatame finaliza lutas, e os juízes seguem a regra à risca, assim como árbitros da luta olímpica, na modalidade livre ou greco-romana. Esta é dentre as ocidentais a mais antiga, desenvolvida onde a democracia teve berço. Sua regra é clara: impedimento para quem joga sujo. Isso significa que haverá medalha ao se somarem os pontos, mas só se depois do processo não houver dopping. Para que a decisão seja eficaz, artes originalmente reprimidas passaram por severo processo de regulamentação, como o taekwondo, antigamente proibido na Coreia, em que atingir oponentes no rosto com as mãos é falta. No Brasil, por muito tempo, tivemos uma arte proibida, de ascendência africana e genuinamente brasileira: a capoeira. Por sorte, não é olímpica.
Melhor assim! Imagine: a sabedoria ancestral de mestres e a voz tradicional controladas por entidades que sequer consultam quem mais preza pelo jogo. E, quando o fazem, descartam o voto e o apelo democrático, como se a rasteira pudesse ser aplicada toscamente, sem a elegância de quem sabe jogar.