A população gaúcha, especialmente a parcela que vive e transita pela Região Metropolitana, está estarrecida e indignada com o assassinato da médica Graziela Muller Lerias por ladrões de carro, numa das avenidas mais movimentadas da capital gaúcha. Ainda que os homicídios e latrocínios tenham virado rotina no Estado, como comprovam outras mortes ocorridas no mesmo dia, entre as quais a de um porteiro no bairro Cristal, o assalto à jovem provoca imediata identificação de milhares de motoristas e passageiros que circulam pelo mesmo local – além, evidentemente, de consternação e solidariedade com a família da vítima. O que mais revolta é a covardia dos delinquentes, que alvejaram uma pessoa indefesa, supostamente porque as portas do veículo estavam trancadas.
Diante da situação de desamparo dos cidadãos, que vivem sob risco e ainda são responsabilizados por algumas autoridades como se a culpa fosse deles, é compreensível que a indignação tenha alvos difusos. Há, realmente, muitos culpados pela calamidade da insegurança urbana, mas algumas prioridades precisam ser colocadas para que a revolta seja consequente. O primeiro e maior responsável pelo banditismo é o bandido. Pessoas que roubam e matam para satisfazer seus instintos perversos ou seus vícios não podem ficar impunes, não podem continuar convivendo com a sociedade, não podem ser beneficiadas facilmente pelas falhas da legislação e do sistema prisional.
O governo, evidentemente, tem grande responsabilidade, pois cabe ao Executivo a atribuição constitucional de garantir segurança à população. Mas essa responsabilidade tem que ser compartilhada pelos demais poderes, pelo Legislativo, que não elabora leis e códigos eficazes para inibir a criminalidade, e pelo Judiciário, que nem sempre interpreta e aplica a legislação com o rigor necessário.
A parte dos cidadãos, além de tomar os devidos cuidados com a própria segurança, é cobrar reiteradamente de seus representantes providências compatíveis com a gravidade da situação. A primeira e mais urgente é um policiamento preventivo mais eficaz, seguido de investimentos no sistema prisional para que os delinquentes retirados de circulação fiquem efetivamente segregados da sociedade pelo tempo que a Justiça determinar. Outras causas, como as desigualdades sociais, o desemprego e as carências educacionais, também precisam ser enfrentadas, mas o essencial neste momento é frear o morticínio de inocentes.