"Ciência das soluções imaginárias", assim é caracterizada a patafísica nas palavras de seu criador, Alfred Jarry (1873/1907), considerado por muitos um inspirador do surrealismo e do teatro do absurdo. Parodiando o escritor francês, seriam nossos corruptos, seja políticos, não importa de qual horizonte partidário ou ideológico, seja empresários, ou servidores públicos, verdadeiros patafísicos, pelas tentativas de explicação dadas aos atos de corrupção realizados? Com certeza não, falta completamente a eles a qualidade, a ironia, a grandeza de Jarry. Sem falar na pura "razão cínica" ou na pura "razão instrumental", ou seja, o emprego de uma pretensa racionalidade para justificar os malfeitos, em contraponto a qualquer indício de "razão sábia". Ao invés de uma "ciência das soluções imaginárias", trata-se pura e simplesmente de uma "mentira das explicações fantásticas".
O nec plus ultra das tentativas de explicação – e aqui, pelo menos, talvez se aproximem um pouco da ironia de Jarry – são as tais das doações oficiais para as campanhas eleitorais ocorridas. Embora se possa presumir que doação não oficial seja doação ilegal, não podemos necessariamente concluir que toda doação oficial seja doação substancialmente legal. Pelo menos é o que estão a demonstrar as investigações da Polícia Federal, do Ministério Público, e o que tem sido em grande parte o entendimento da justiça: doações formalmente oficiais, mas muitas vezes substancialmente ilegais, pois decorrentes de atos de corrupção.
Em complemento, a argumentação, ou artimanha, de que as contas da campanha eleitoral foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. De qualquer forma, as tais das doações oficiais são apenas parte do total das doações. Realmente, é desprezar a sensibilidade e a inteligência do cidadão.
Há seguramente outras tentativas de explicação, ou de justificação, inclusive a relativização, se não a legitimação da corrupção, não percebendo, além das suas consequências econômicas, seus aspectos deletérios do ponto de vista ético, social, e, por que não, civilizatório. Daí o porquê da importância do momento atual para repensarmos nossa trajetória política e institucional. Momento de desvelamento de nossa realidade, mas também de perspectivas de futuro.