Será longo, arrastado e quase protocolar o penúltimo ato do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a partir das 9h desta terça-feira. Longo e arrastado porque os defensores de Dilma usarão de todos os recursos possíveis e imagináveis para retardar o julgamento, na esperança de que surja alguma delação ou fato capaz de abalar as estruturas do interino Michel Temer. Protocolar, porque as cartas estão na mesa e em todas as fases anteriores Dilma não conseguiu o número necessário de senadores para garantir o retorno ao Palácio do Planalto.
Os partidos de oposição tentam ganhar tempo em três frentes: no Senado, apresentando questões de ordem, no Ministério Público Federal e no Supremo Tribunal Federal.
Embora baste a maioria simples para o julgamento continuar, o placar nessa fase, a de pronúncia, será uma prévia da votação definitiva, a menos que surja alguma bomba nas próximas duas semanas. Todos os levantamentos indicam que Dilma será afastada em caráter definitivo, mesmo com toda a controvérsia em relação ao crime de responsabilidade.
A verdade é que os senadores mal prestaram atenção nas intermináveis sessões em que foram ouvidas as testemunhas de defesa ou em que o advogado José Eduardo Cardozo apresentou seus argumentos. A maioria já tem convicção firmada desde que o processo chegou ao Senado e, assim como fizeram os deputados, vai julgar a presidente afastada pelo conjunto da obra e não pelo que está nos autos. Por “conjunto da obra” leia-se os erros do PT na condução da política econômica, a corrupção na Petrobras (mesmo que os partidos de boa parte dos senadores estejam associados ao escândalo) e falta de habilidade política de Dilma. Quem ainda se lembra das pedaladas fiscais que deram causa à aceitação do pedido de impeachment na Câmara?
Valendo-se da reportagem da revista Veja, segundo a qual o empresário Marcelo Odebrecht citou na delação premiada o repasse de dinheiro de caixa 2 para Temer, os líderes do PT e do PC do B iniciaram um movimento para tentar adiar o julgamento. As chances de sucesso são remotas, mas os aliados de Dilma dão sinais de que cairão atirando.
O problema de apostar as fichas na delação premiada de Odebrecht é que ela pode ser comprometedora para Temer, José Serra, Antonio Anastasia e outros tucanos emplumados, mas não será menos devastadora para o PT, que foi dono da caneta nos últimos 13 anos.