Já dizia um velho líder castilhista que a atividade parlamentar era para lamentar. O diagnóstico de todos esses políticos, de Júlio de Castilhos a Getúlio Vargas, passando por Borges de Medeiros e Pinheiro Machado, era o de que o Parlamento era lugar de traficâncias e negociatas, onde estava ausente o espírito público, o bem coletivo.
Nasce aí o desprezo de toda essa corrente política e de pensamento para com o Poder Legislativo e sua defesa intransigente do autoritarismo. Note-se que não se trata de homens incultos, mas preparados, com alta capacidade argumentativa. Nada, portanto, que diga respeito a pessoas que apenas se encantassem com o uso força. Sustentavam um autoritarismo esclarecido.
Se olharmos agora, com tantas décadas de distância, para a nossa Câmara dos Deputados, com o olhar isento do analista, seremos como que obrigados a constatar a justeza dessa apreciação castilhista. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é forçado a renunciar por força de uma série de inquéritos e denúncias envolvendo a sua pessoa em casos de propinas e improbidade, entre outros crimes.
Os que se disputam a sua sucessão, em sua grande maioria, não estão muito distantes disto, com polpuda folha corrida. O currículo policial ganha frequentemente do currículo político. Para todo lado que se olhe, o espetáculo é de uma enorme tristeza. O mensalão e o petrolão bem mostram a que ponto o lulopetismo terminou "aperfeiçoando" todo esse processo de desmonte e de desmoralização do processo legislativo.
Sucessivas legislaturas transcorrem e nada indica uma melhora dos seus quadros. Os melhores nem mais conseguem se impor. Os piores ganham relevo e importância. A nação, desacorçoada, assiste, pasma, a um processo que a ultrapassa.
Note-se que não se trata de um problema menor, mas de algo que diz respeito a uma instituição central da democracia. Sem Legislativo forte, tende a ocorrer um enfraquecimento das instituições em geral, com outros Poderes, inclusive, ganhando preponderância. Tentações autoritárias muitas vezes surgem de situações deste tipo.
Nesta semana, a Câmara dos Deputados elegerá um novo presidente. Abre-se uma oportunidade para que haja uma certa reação rumo à moralidade pública. Contudo, não convém muito esperar. O Brasil, porém, deve ficar atento a que, pelo menos, tenhamos alguém na Presidência que possa representar o papel de um Legislativo que sinalize para o bem coletivo, e não para o bem privado dos seus membros.