Eduardo Cunha é a mais acabada síntese da crise política brasileira por três razões. A primeira pelo poder que tem na Câmara dos Deputados, que extrapola para o Executivo, esteja este nas mãos de Dilma ou de Temer. Tem uma bancada própria, chegou à presidência e manipulou o processo de impeachment e a Comissão de Ética segundo seus interesses. Pouco importa se será ou não cassado nas próximas semanas, seu poder e sua capacidade de se manter no poder são uma síntese da crise da engenharia política institucional que sustentou a chamada Nova República. O presidencialismo de coalizão, que a princípio deveria ser sustentado por uma articulação de forças que conseguisse construir um projeto minimamente comum, tornou-se um troca-troca de favores pouco respeitáveis. A liderança de Cunha é prova da falência.
A segunda razão de sua condição de síntese de uma crise profunda é o espaço que ocupa nos escândalos de corrupção que assolam o Brasil. Não se pode garantir que Cunha seja o mais corrupto dos corruptos, mas certamente a combinação do roubo de imensas somas com a desfaçatez dos gastos dele e de sua família afrontam qualquer princípio de moralidade pública. Cunha é o exemplo máximo da forma perversa como as elites políticas brasileiras se apropriam dos bens públicos.
A terceira razão de Eduardo Cunha ser a síntese da crise política no Brasil é a forma como ele, sua mulher e sua filha têm sido tratados pela Operação Lava-Jato. Nada foi provado em relação ao ex-presidente Lula. Há muitas investigações, mas nunca foi considerado réu, pelo menos até agora. Isto, entretanto, não impediu que fosse armado um circo para fazê-lo depor mediante condução coercitiva. O ex-ministro Paulo Bernardo foi preso com espalhafato, para logo ser solto. Delcídio também foi preso e teve seu mandato cassado. Mas Cunha, que já foi declarado duas vezes réu pelo STF, e sua família nunca foram incomodados pela Lava-Jato. Ele é a síntese da banda menos saudável da República de Curitiba, aquela dos vazamento e prisões seletivas.
Dilma Rousseff possivelmente sofrerá um impeachment sem ter cometido nenhum crime de responsabilidade. Os políticos que apoiam seu afastamento e muitos formadores de opinião afirmam que o problema não são os crimes, porque o julgamento é político. O mesmo raciocínio vale para Cunha, a questão não são os crimes, neste caso cometidos, porque o julgamento é político e por isto ele continua solto. Novamente um síntese da crise.