Na tentativa de garantir apoio político para projetos emergenciais, como a PEC que fixa gastos públicos, e também para assegurar a votação favorável ao impeachment no Congresso, o governo interino do vice-presidente Michel Temer está gastando e fazendo concessões em níveis preocupantes, num momento em que o mercado espera corte de despesas. Os atos contradizem o discurso de quem assumiu o poder prometendo apertar o cinto e repetem a mesma estratégia fracassada do governo anterior, de "comprar" apoio político com a distribuição de benesses para aliados e apadrinhados. O agravante é que os gastos vêm alcançando velocidade maior do que as ações para equilibrar as contas públicas.
Ao assumir, há pouco mais de um mês e meio, o atual governo reduziu o número de ministérios e apressou-se em elevar a meta fiscal para R$ 170,5 bilhões, sob a alegação de que o anterior havia subestimado e maquiado os números. Na prática, a reprogramação da meta fiscal acabou servindo para facilitar a renegociação da dívida dos Estados e a liberação de verbas para o Rio de Janeiro, além de despesas adicionais de mais R$ 3,6 bilhões até o fim do ano. Nesse último caso, estão incluídos o reajuste de servidores do Judiciário e do Ministério Público, mais o do Bolsa Família – acima do pretendido pelo governo anterior.
O risco desse procedimento submisso a pressões, que inclui até mesmo um aparente acordo para salvar o mandato do enrolado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é o boicote político à tênue reação econômica que começa a se esboçar. A expansão dos gastos públicos vai na contramão do discurso da austeridade, num país que deve priorizar as reformas para retomar o crescimento.