Os brasileiros jamais souberam tanto a respeito de seus governantes e representantes políticos como nesses tempos de gravações escondidas, grampos telefônicos e delações premiadas. E a decepção tem sido grande: não passa dia sem que algum desses agentes públicos seja flagrado conspirando para subtrair a nação, maquinando para conquistar uma fatia de poder ou mesmo fazendo planos para escapar da Justiça. Não se pode generalizar, evidentemente. Nos governos, nas empresas estatais e nas casas legislativas certamente há muitas pessoas dignas, servidores responsáveis e cidadãos comprometidos com o interesse público. Mas a impressão geral é de que os partidos estão contaminados pela corrupção e de que tudo que cerca a política tem algum tipo de irregularidade.
Há, porém, um aspecto positivo nesse mar de lama que eclodiu no mensalão e recrudesceu com a Operação Lava-Jato: o cidadão ganhou novos poderes para reagir contra aqueles que traem sua confiança e suas esperanças. Além de avanços na legislação que permitem fiscalizar melhor o poder público e de instituições com independência para representá-los nesse trabalho de vigilância, os brasileiros passaram a desfrutar do direito de saber mais sobre atos e ideias de seus representantes. Isso se dá não apenas pela ampla liberdade de expressão vigente no país, mas também por caminhos pouco convencionais – em alguns casos até pouco recomendáveis –, como gravações clandestinas e vazamentos de investigações policiais. A verdade é que, por linhas retas ou tortas, o país está avançando no rumo da transparência.
E a luz do sol – como sugere o célebre ensinamento do juiz norte-americano Louis Brandeis – continua sendo o melhor dos desinfetantes.
Ainda que os investigados reclamem de vazamentos seletivos, sempre é bom lembrar que o artigo 5º da Constituição Federal estabelece como princípio a publicidade dos atos processuais. Nesse sentido, é democrático e republicano que o Judiciário e o Ministério Público recorram com frequência à imprensa independente para dar amplitude às suas ações investigatórias e para conquistar o apoio da opinião pública na luta contra a corrupção. Quem ganha com isso é a cidadania, pois as pessoas que detêm o poder de saber ficam melhor capacitadas para exercer seus direitos.