Sábado, sensação térmica de zero grau em Porto Alegre, resolvemos fazer um programa diferente: ir a um museu. A gente vive comentando que adora visitar museus fora daqui, e não valoriza as alternativas locais. Então combinamos: Museu Júlio de Castilhos, o mais antigo do Estado. Vamos começar do começo! Tinha boas lembranças do espaço, de algumas décadas atrás, pequeno, mas bem organizado. E me lembrava das incríveis botas do gigante que viveu no Rio Grande, grande atração para crianças e adultos.
Onde estacionar? Na rua não dá. Seríamos um prato cheio para assaltos, mesmo no coração do Rio Grande, junto ao Palácio Piratini. Deixamos num estacionamento. Para chegar lá, calçadas quebradas, dois gaúchos sem teto, farrapos quase congelados com seus arremedos de casas na rua, colchões, panos, trouxas, resistindo ao minuano e à crise sem fim do Estado.
Imagino o orgulho de Borges de Medeiros ao criar o primeiro museu do RS, em 1903. Um lugar para contar nossas façanhas, memórias e batalhas. O termo que melhor definiu nossa experiência não foi orgulho, nada próximo disso. A palavra que escolhemos foi vergonha.
O museu segue aberto não sei por quê. As salas estão vazias, a maior parte delas às escuras. O piso, depauperado. Liguei a lanterna do celular e me embretei por salas sem um ponto de luz, em busca dos aposentos de Júlio de Castilhos. Nada. Algumas peças foram fechadas, porque ameaçam ruir com o peso dos visitantes. O quarto de Júlio de Castilhos, segundo uma funcionária, foi destruído em um dos últimos temporais. Estragou tudo, nos disse ela. Era o ponto alto do lugar.
Há pouco para se ver. A Sala Farroupilha, a Sala Indígena, a Sala Missioneira. Uma Constituição aqui, um canhão acolá, um arco e flecha, cada sala com meia dúzia de objetos. A sensação é de um museu abandonado. Minha memória não pode estar tão ruim: fui para a internet buscar imagens e, sim, o museu era bem cuidado e iluminado. O que aconteceu de lá para cá? O que aconteceu conosco?
Ainda bem que ainda se veem as botas do gigante. Pertencentes a um homem chamado Francisco Ângelo Guerreiro, de 2m17cm, sempre foram polêmicas entre os técnicos. Deslocadas do contexto, são só uma lembrança de um tempo em que pessoas com alguma deformação eram atração de circo. As botas foram guardadas, mas tiveram de voltar à exposição por sua popularidade.
A visita foi triste. Saímos de lá rapidamente. Mas não deixou de ser didática. Nosso mais antigo museu é um excelente retrato não da história, mas uma exibição contemporânea da situação do Rio Grande do Sul. O nome do gigante era Guerreiro. Quem sabe?