A greve do magistério foi mantida por quórum apertado e baixa participação na última assembleia. A maioria dos núcleos do Interior pugnava pelo retorno ao trabalho. Analistas políticos afirmam que a decisão foi muito além de manter ou não a paralisação, pois o que estaria em jogo é uma disputa política interna no Cpers. Não entro no mérito dessa discussão, que é de foro exclusivo da categoria, mas trago algumas reflexões.
A greve é um direito do trabalhador, mas não é absoluto e está sujeito a regras. No setor privado, o maior prejudicado em termos financeiros é o empregador, que deixa de ter a sua atividade executada. No setor público, ao contrário, o principal prejudicado não é o governo, que atua como empregador, e sim os destinatários do serviço, que na educação são os estudantes e suas famílias. A paralisação já é superior a 40 dias, o que põe em risco o cumprimento do ano letivo e prejudica a trajetória profissional e de vida dos estudantes, principalmente os concluintes do Ensino Médio ou educação profissional.
Nesse período, o governo dialogou de forma transparente, informando que a grave crise financeira afasta, momentaneamente, qualquer possibilidade de reajuste. Avançamos nas demais pautas, fato reconhecido pelo próprio sindicato. O Cpers fala em "negociação de verdade", como se fosse por mera falta de vontade política que não tenhamos avançado nas questões salariais. Não conseguimos sequer pagar integralmente a folha, o que evidencia a impossibilidade material de conceder aumentos, embora reconheçamos o real valor e a importância do magistério gaúcho.
Vivenciamos, a exemplo de outros Estados, uma crise que pôs em recessão a economia do país. A sociedade e a maioria dos professores compreendem esta situação, mesmo que considerem justa a luta por melhores salários.
Também não podemos concordar com o método de pressão utilizado pelo Cpers, como a ocupação do Centro Administrativo e de coordenadorias regionais de Educação. Isto fere frontalmente o direito de greve, cuja lei diz que os meios adotados não poderão violar ou constranger direitos e garantias fundamentais de outrem, e que as manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho.
Acreditamos no bom senso e esperamos que o interesse da população prevaleça, com o retorno às aulas, abrindo espaço para que possamos discutir e adotar medidas que proporcionem a melhoria da qualidade da educação gaúcha.