O Brasil está atravessando um momento de gravíssima crise política e a saída para ela está a cada momento mais difícil, exige uma vontade política que parece estar muito além da capacidade dos atores que atuam no momento. Mas democracia é construção e, se não a derrotarmos, certamente teremos saída.
A crise tem como ponto de partida o rompimento do pacto que havia possibilitado os três governos liderados pelo PT, que pode ser resumido como "todos ganhavam". Se as camadas populares tiveram ganhos importantes, também tiveram os bancos e setores da indústria e as classes médias. A crise econômica internacional e o esgotamento do modelo econômico interno provocaram o rompimento do pacto. Isto teve duas consequências políticas, a não aceitação por parte do PSDB da derrota de seu candidato à Presidência e a paralisação do governo Dilma em 2015, por parte da Câmara dos Deputados liderada por Eduardo Cunha. Dilma literalmente foi impedida de governar.
Consequência disso, o início do processo de impeachment e posteriormente o afastamento de Dilma Rousseff. Temer, ao assumir o governo interino, com total despudor trouxe para o governo o que há de mais comprometido com a corrupção no país e, como numa corrida de obstáculo, tenta derrubar todas as barreiras possíveis para a instauração de um neoliberalismo ultrapassado.
O impeachment teve apoio popular, mas Temer parece não ter nenhum. De forma contrária, Dilma, que parecia isolada, ressurge politicamente com o apoio das ruas. É interessante observar o silêncio dos institutos de pesquisa sobre a popularidade de Temer e de Dilma. Antes da posse do presidente interino, os grandes jornais e as redes de televisão faziam pesquisas quase semanais. Agora há uma total ausência delas.
Se o governo Temer não se mantiver, Dilma Rousseff volta, mas a crise não se esgota com o retorno da presidenta eleita. Este será um momento muito grave, porque um pacto de governabilidade terá de ser feito. É fundamental que isto aconteça, pois o país não tem condições de aguentar nem a paralisação de 2015, nem o descalabro de um governo interino, que tem intimidado até os seus mais fervorosos defensores de primeira hora.