O presidente interino Michel Temer aproveitou a cerimônia de posse conjunta de cinco novos gestores de estatais e bancos oficiais para passar uma mensagem à nação sobre o risco de interferência do Executivo no processo de combate à corrupção que vem sendo levado a efeito pelo Judiciário. "Quero revelar, pela enésima vez, que ninguém vai interferir na chamada Lava-Jato", afirmou o vice no exercício da Presidência. E aproveitou para dar um recado público aos dirigentes que estavam sendo empossados: "Trabalhem duro e preservem a ética e a transparência na gestão em todas as decisões, sejam absolutamente intransigentes com tudo o que se afaste da irrestrita legalidade".
Mais do que oportunas, são mensagens necessárias depois que o governo, em menos de três semanas, teve dois ministros afastados por envolvimento em conspiração contra a operação jurídico-policial que vem desmantelando o histórico esquema de corrupção da administração pública brasileira. O mais promissor é que a equipe empossada ontem, formada por nomes reconhecidos no mercado como gestores íntegros e eficientes, corrobora o discurso presidencial – ao contrário do que vem ocorrendo na área política. Foi justamente devido ao aparelhamento político levado a extremos na administração anterior que empresas públicas como a Petrobras, a Caixa Econômica Federal e o BNDES perderam eficiência e credibilidade, além de, em alguns casos, terem sofrido danos patrimoniais irreparáveis.
A Operação Lava-Jato não vai corrigir todas as deformações do país. Mas é um indicativo claro para os gestores públicos, incluindo o presidente interino e a presidente afastada, que o Brasil não pode mais ser administrado na base da troca de favores, do pagamento de propinas e da oferta de cargos por apoio político. Não pode haver tanta dissonância entre política e economia, pois uma depende da outra e o Brasil depende do bom funcionamento de ambas para recuperar as condições de desenvolvimento.
O discurso moralizador é oportuno e bem-vindo, mas os brasileiros precisam de ações que efetivamente contribuam para a superação da situação caótica em que o país se encontra.