Se já havia despertado suspeitas de falta de independência ao nomear ministros investigados pela Operação Lava-Jato, o presidente interino, Michel Temer, vem tomando decisões que demonstram uma preocupante fragilidade de princípios e uma excessiva suscetibilidade a pressões. Basta uma reação contrária para ele fazer concessões. Foi o que ocorreu ao referendar como líder de seu governo um parlamentar que responde a uma série de processos criminais, além de ser reconhecidamente fiel ao presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. E é o que fica evidente quando o presidente interino se mostra refém do chamado Centrão, composto em sua maioria de parlamentares fisiológicos e conservadores, muitos dos quais envolvidos em denúncias. O trunfo do grupo, com mais de metade dos votos na Câmara, é o de ter garantido o impeachment da presidente afastada, além de contar com número suficiente para barrar a tramitação do pedido relacionado ao presidente em exercício.
Ao se submeter tão facilmente a concessões, o presidente interino não pode ignorar que sua ascensão ao poder, de forma temporária, deve-se principalmente ao repúdio da população brasileira à corrupção, com a qual o governo anterior flertava escancaradamente. Como já advertem algumas lideranças do movimento pelo impeachment, não foi para isso que um expressivo contingente de brasileiros foi às ruas contra o governo anterior. A indicação de um primeiro escalão do novo governo, com tantos nomes ligados ao pior da política e alguns envolvidos diretamente na Lava-Jato, já era suficiente para gerar desconforto. A esse quadro, soma-se agora um grupo de parlamentares, em sua maioria pouco afeitos à ética, com força suficiente para influenciar um presidente que depende deles para aprovar projetos e, principalmente, para se manter no poder.
O problema central é que governo, qualquer um, precisa aprovar projetos no Congresso. E, nesse governo de coalizão, sem o apoio de um Legislativo fragmentado, nenhum projeto avança e o país afunda. Só do chamado Centrão, fazem parte 13 partidos, muitos dos quais minúsculos e inexpressivos. É o caso do Partido Social Cristão (PSC), que, com apenas nove deputados, conseguiu emplacar um de seus integrantes como líder de um governo cercado de tanta expectativa e do qual o país está agora na dependência para sair de uma crise econômica, política e moral devastadora.
Não há como imaginar o bom funcionamento do chamado presidencialismo de coalizão envolvendo tantos partidos, com uma multiplicidade de interesses tão grande e sem compromissos mínimos com a ética. Por isso, entre tantas prioridades, é preciso que se inclua como questão central a aprovação de uma reforma política. Não há outra forma de restringir essa constelação de partidos para que sobrevivam aqueles que têm conteúdo programático e preocupação social, deixando em segundo plano as ambições de seus militantes.