O conteúdo divulgado da conversa gravada entre o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não tem elementos incriminadores para o parlamentar, que já é investigado no âmbito da Lava-Jato. Ainda assim, é particularmente revelador da promiscuidade dominante nos altos escalões da política no país e do estado de espírito de alguns homens públicos, visivelmente amedrontados pelas ações de combate à corrupção e contrariados com a seriedade da atuação de instituições comprometidas com a moralização. O revoltante, para quem está fora desse mundo de quem não mede escrúpulos para manter o país sob seu controle, é que nem mesmo o medo de ser pego é suficiente para intimidar novas ações em causa própria e contra o Estado, como as que se sucedem a cada dia.
Nos casos mais recentes, desperta repulsa o papel de traidor exercido por quem grava deslealmente outros políticos com o propósito de delatá-los para auferir benefícios e penas mais brandas. Mas diferentemente do episódio que derrubou o ministro do Planejamento, pego defendendo um pacto para deter a Lava-Jato, o grampo do presidente do Senado é menos comprometedor. As objeções do senador à delação extraída de prisioneiros já motivaram inclusive projeto de lei de um parlamentar petista, protocolado na Câmara.
O que fica explícito e preocupa no teor das gravações divulgadas agora é a degradação moral dos ocupantes de posições importantes na estrutura partidária do país. É o que se constata quando o ex-dirigente da subsidiária da Petrobras adverte que, diante de delações como a da Odebrecht, "não escapa ninguém de nenhum partido".
O mais revoltante é que juízes e procuradores dedicados a moralizar o país são vistos pelos investigados como inimigos, como figuras nocivas para a classe política.
Da mesma forma, são criticados proprietários de veículos de comunicação que se negam a interferir no noticiário. Ora, trata-se de uma deformação da democracia e da representação parlamentar. Os políticos envolvidos em corrupção, que tentam manter esse modelo viciado e degradado, definitivamente não representam os brasileiros que querem viver num país digno.