Dizer que o mundo está mudando rápido é um lugar-comum. Mas os clichês não acontecem por acaso. Eles, quase sempre, traduzem verdades, sobre as quais pouco pensamos, exatamente por terem se tornado comuns. Enquanto ficamos repetindo que o mundo mudou, será mesmo que estamos racionalizando, de fato, as mudanças? Você percebe como os conceitos clássicos que estruturam nossa sociedade estão se transformando ao vivo, em tempo real, bem na sua frente?
E não é só a tecnologia ou o digital. As famílias estão assumindo múltiplas configurações, as religiões transmutam seu discurso para satisfazer necessidades imediatas, as escolas sofrem na tentativa de despertar interesse nos alunos, profissões, negócios e indústrias inteiras desaparecem e surgem num piscar de olhos, as relações de trabalho passam a ter menos envolvimento, menor duração e menos segurança, e eu poderia citar inúmeros outros exemplos visíveis de um mundo novo que está sendo erguido todos os dias, enquanto você vive seu cotidiano de hoje igual ao de ontem. John Lennon já dizia que vida é o que acontece enquanto você está pensando em outra coisa. Pois esta é a vida que está acontecendo agora. Amores, afetos, amizades e as relações profissionais, sociais, políticas, ideológicas e até espirituais, que, historicamente, são o que dão nitidez e singularidade ao que cada um de nós é, pensa e faz, estão esfumaçando-se, tornando-se menos óbvias, mais complexas e instáveis.
Em um mundo onde tudo é cada vez mais híbrido, e onde todos estão cada vez mais conectados, e no qual ainda nem vimos tudo que vai acontecer com a inteligência artificial, a robótica e a genética movida pela nanotecnologia, as perguntas serão frequentes. E, provavelmente, as angústias pessoais também. Porque, afinal, de que serve tudo isso se não for para sermos felizes? A grande questão é não perder de vista o humano na incrível velocidade desta estrada. Ou, como li dia desses em um livro, "a felicidade se resume a não perder seu 'eu' no caminho".
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