Bastou o novo ministro da Saúde dizer que o país precisará repactuar benefícios públicos, como aconteceu com a Grécia, para disseminar-se o boato de que o governo Temer reduzirá o Sistema Único de Saúde, o que o senhor Ricardo Barros desmentiu veementemente em entrevista à Rádio Gaúcha, ontem. Também em relação ao novo ministro da Justiça, houve um mal-entendido resultante de sua entrevista sobre mudanças no critério de escolha do procurador-geral da República. Coube ao próprio presidente interino Michel Temer desfazer o ruído na comunicação, assegurando que manterá a tradição da escolha pela lista tríplice indicada pela categoria.
Já se percebe, por aí, que a comunicação dos ministros de Temer não está sendo a mais adequada. Mas há outros componentes nesta confusão de informações que merecem ser considerados. Um deles é que a imprensa está conferindo com lupa as propostas dos novos governantes. Outro é que existe uma verdadeira guerrilha nas redes sociais, por conta do conflito político-ideológico acirrado pelo processo de impeachment.
Em consequência, não faltam disseminadores do pânico, que buscam qualquer frase ou palavra fora de contexto para levantar suspeitas ou incriminar adversários políticos. Até o logotipo do governo interino, inspirado numa versão desatualizada da bandeira do Brasil, que deixou de ser usada exatamente no regime militar, foi considerado por alguns críticos da nova administração como uma volta à ditadura.
Neste cenário de boatos, suposições e maledicências, é importante que os brasileiros busquem informações confiáveis para se posicionar. Além disso, até mesmo as manifestações prévias de integrantes do governo devem ser relativizadas, pois qualquer medida que mexa com a vida dos brasileiros terá que ser submetida ao exame do Congresso, à avaliação do Judiciário e à vigilância atenta dos cidadãos. Num país que vem lutando arduamente contra o arbítrio e a corrupção, não pode haver margem para qualquer tipo de imposição.