Sentado na cama em meio aos sentimentos de saudade e tristeza, o choro de Waldir Eduardo Rodrigues, 47 anos, era o retrato da sensação de impotência pelo assassinato do seu filho de criação. Essa cena foi registrada nesta quarta-feira à tarde, em uma casa do bairro Tancredo Neves, no mesmo momento em que o corpo de João Victor König, 17 anos, era velado no necrotério de Arroio Grande. O adolescente foi vítima do primeiro latrocínio do ano em Santa Maria.
O crime ocorreu por volta das 23h30min de terça-feira, na Rua Olinto Trevisan, bairro Tancredo Neves, região oeste da cidade. Conforme o delegado Marcelo Arigony, da 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP), responsável pela investigação, uma discussão por causa de uma bicicleta motivou o roubo com morte.
O suspeito de ter assassinado João Victor, André Silva dos Santos, 19 anos, apresentou-se à Polícia Civil na manhã de quarta-feira para prestar depoimento. Ele confessou o crime e contou que havia pedido a bicicleta emprestada a König, que teria recusado-se a entregá-la. Em resposta, o suspeito atirou contra a vítima, que foi ferida com quatro tiros. O suspeito fugiu do local com a bicicleta. Como não foi caracterizado o flagrante, o suspeito não ficou detido.
_ Conforme a legislação, a prisão antes da sentença só acontece em caso de flagrante, ou se tiver a prisão decretada por um juiz _ explica o delegado.
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A bicicleta roubada e o revólver que teria sido usado no crime foram apreendidos. Esse foi o 14º assassinato do ano na cidade. A 2ª DP segue as investigações.
De acordo com o delegado Arigony, os índices de roubos e assaltos são altos em Santa Maria, e a prioridade da polícia, neste momento, é encaminhar para a Justiça os inquéritos para deter os bandidos e proporcionar tranquilidade social.
– Os assaltos e roubos são consequência de inúmeros problemas sociais e do sistema. Mas, quando acontecem, não se deve reagir. A vida é o bem maior e não vale a pena pôr a vida em risco em função do patrimônio – aconselha Arigony.
Trajetória promissora interrompida
João Victor nasceu no distrito de Arroio Grande e foi criado no bairro Tancredo Neves pela tia Maria Dolores Marian da Silva. Conforme Waldir Eduardo Rodrigues, marido de Maria Dolores, João Victor foi uma criança calma e se tornou um jovem tranquilo, trabalhador e esforçado.
– Ele era bem quieto, na dele, não incomodava. Se reunia com os amigos aqui nas redondezas para conversar e andar de bicicleta. Ele era o mais velho da turma deles, uma gurizada de 10 a 14 anos – conta Rodrigues.
Quando estava em casa, João Victor gostava de ficar no seu quarto ouvindo música e assistindo a programas de TV. O jovem trabalhava como serviços gerais em uma agropecuária do bairro onde morava.
– Era um guri muito trabalhador. Ele fazia, basicamente, os serviços de banco. Era um rapaz confiável, eu conhecia sua família, era uma boa pessoa – relata Alcevino Furlan, responsável pela agropecuária.
Conforme Rodrigues, há meses João Victor vinha juntando dinheiro para comprar a bicicleta que virou motivo de cobiça e que o levou à morte. Além disso, este era um ano especial para João Victor. Prestes a completar 18 anos, estava aguardando a data para fazer a sua carteira de motorista e já havia se alistado para tentar prestar serviço militar. Segundo o pai de criação, ele queria seguir carreira no quartel, entendia muito sobre mecânica e era muito inteligente.
– O que aconteceu foi uma barbaridade. As pessoas não podem mais andar nas ruas que correm o risco de serem mortas? Dizem que, no Brasil, não existe pena de morte, mas os bandidos matam qualquer um, a qualquer hora, quando eles bem entendem – lamenta Rodrigues.
O velório e o sepultamento de João Victor foram realizados quarta-feira à tarde, em Arroio Grande.