A proximidade do impedimento da presidente Dilma Rousseff deixou-me um pouco ambivalente. Num primeiro momento, senti um alívio. Interromper-se-á um governo cheio de problemas e o país terá vida nova.
Contudo, fui imediatamente invadido por uma sensação de frustração. Dei-me conta de que os destinos do país ficarão em mãos de políticos sem legitimidade para o cargo, muitos deles suspeitos das mesmas práticas que condenamos no atual governo.
Em 30 de março, Zero Hora publica uma fotografia de vários líderes do PMDB, sorridentes, após a decisão de abandonar o governo. Todos em êxtase com a possibilidade de um novo loteamento de cargos.
Imagino se Temer assumisse hoje como presidente e fosse às ruas com seu novo ministério, para receber do povo brasileiro as boas-vindas. Tenho dúvidas sobre como seriam recebidos.
Eles não são os líderes que desejamos para o Brasil. Melhor seria que a presidente da República saísse do Palácio do Planalto levando junto o seu vice-presidente.
E que ocorresse também o afastamento dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, para que eles fossem submetidos ao julgamento pelos seus crimes. Assim, o Poder Legislativo poderia recuperar sua credibilidade.
É isto que o povo brasileiro deseja. E quem poderia operar esse milagre? O Tribunal Superior Eleitoral. Se esse órgão confirmasse o que todos nós já sabemos, a existência de dinheiro sujo na campanha eleitoral, Temer também perderia o mandato.
E teríamos novas eleições presidenciais. O povo decidiria quem seriam os novos governantes. Não importa se do PT, do PMDB ou de outros partidos, desde que políticos dignos e com projetos que nos dessem novamente a esperança de um Brasil melhor.
Não sei se há tempo hábil para isto. E os mais experientes me dizem que isto não irá acontecer. Ou seja, a volta dos velhos caciques é irreversível. Pela fotografia estampada em Zero Hora, pouco mudará em nossa maneira de fazer política. Será quase como trocar "seis por meia dúzia".