A mudança de patamar do desemprego, que em fevereiro registrou uma taxa inédita de dois dígitos, alcançando 10,2%, é uma consequência cruel da deterioração da atividade econômica. O círculo vicioso do desemprego, que agora pune mais de 10 milhões de brasileiros, é trágico, pois inviabiliza o consumo, desorganiza a mão de obra nas empresas e gera problemas sociais nefastos para todos, a começar pela desesperança entre as famílias. Aí está o grande desafio para o governo que sobreviver nesta disputa pelo poder criada pelo processo de impeachment.
Ainda que início de ano costume registrar aumento na taxa de desocupação, devido à dispensa habitual de trabalhadores temporários, o fato concreto é que a elevação foi bem acima da esperada. No período de apenas um ano, quase 3 milhões de brasileiros ficaram sem trabalho, o equivalente a toda a população de uma capital como Salvador ou Brasília. Além disso, a renda caiu, e aumentou o nível de informalidade, indicando uma deterioração preocupante do mercado de trabalho.
Até agora, o nível de emprego, registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vinha resistindo ao aprofundamento da crise, até mesmo, entre outras razões, pelos altos custos das dispensas e, também, pelo fato de as empresas preferirem apostar numa recuperação mais à frente. O país precisa recuperar a expectativa de uma reação na economia para deter logo a aceleração do desemprego, que não pode continuar de forma desenfreada.