Triste fim de Policarpo Quaresma é obra de Lima Barreto. Originada em folhetins, foi publicada em livro em 1915. Na narrativa, seu tragicômico protagonista é considerado louco devido ao nacionalismo exacerbado, exila-se em um sítio e é condenado à morte por traição à pátria.
A trajetória da personagem tem semelhança lúgubre com o caminho percorrido pelo acuado ex-presidente Lula. Não é a única. Bravatas e ufanismo, em seu caso, também serviram de combustível para levar às ruas milhões de brasileiros indignados com aquilo que o discurso maniqueísta impede de enxergar: o fracasso do governo e a corrupção que o assola.
Mas talvez essa identificação (com Policarpo Quaresma) não pertença aos sonhos que Lula busca em seu final de carreira. Animal político, quer dar a volta por cima e ser o "Cavaleiro da Esperança", liderando uma "coluna" de asseclas que romperá com a parcela dos insatisfeitos e com o "golpe" da elite branca dominante.
Quiçá seja esse seu anseio: ao se assumir Prestes e a ocupar um ministério, tentar orquestrar a quinta-coluna, a outra parcela dos brasileiros e do governo ao qual ainda influencia e conduz. Contudo, poderá chegar à conclusão que - de dentro, sob novo telhado de vidro -, ninguém assistirá ao formidável enterro de sua última quimera.
Nunca saberemos se fará parte do governo por temor de não ter foro privilegiado para escapar de inquéritos que o assombram ou se por essa vontade que lhe caracteriza como salvador messiânico da população. Mas, se sim, por que não o fez antes, no momento em que assistia o país e sua capitã naufragarem?
Não há uma resposta, apenas a certeza de que Lula levará consigo um pouco daquilo que lhe conduziu à presidência: a esperança que venceu o medo e que cobrou a conta da corrupção intrincada do menor ao mais alto escalão de partidos e governos.
Mais que isso, enquanto ocupar funções de líder político e econômico, participando por dentro do governo, Lula imporá ao país e a Dilma a figura da rainha da Inglaterra, ao passo que as manifestações continuarão par e passo com processos judiciais que continuam em curso.
Por fim, lembrando a referência do início do texto, Policarpo Quaresma morre na prisão.