Ultimamente, venho procurando um critério para distinguir lugares civilizados e bárbaros. Depois da tempestade de sexta-feira passada, finalmente me decidi por um parâmetro bem simples: a presença de fios pendurados nas ruas.
Funciona assim: chego numa cidade, paro na calçada, olho para cima. Vejo o céu? Civilização (os cabos de energia estão em túneis subterrâneos). Vi um emaranhado de fios? Barbárie. Neste meu ranking, o Brasil ocupa uma posição lamentável, e Porto Alegre está enterrada na Idade das Trevas.
Reconheço que, inicialmente, minha bronca era mais estética. Ruas sem fios são mais limpas, despoluídas, sem aqueles emaranhados horrorosos. Mas a feiúra é o de menos. Postes cheios de fios são inseguros. Sexta-feira vimos como é precária a nossa escolha por manter as redes elétricas e telefônicas no alto. Chega a tempestade e postes caem, fios arrebentam e se espalham, às vezes energizados, pelas calçadas.
Volta e meia, algum colega meu em ZH faz uma reportagem sobre o assunto. Exatamente uma semana antes do temporal, mostramos moradores preocupados com fios pendentes e aquele jogo de empurra que precede qualquer tragédia. A prefeitura culpa as empresas de luz e telefone e diz não poder fazer nada; a Anatel, que fiscaliza parte dessas companhias, diz que as queixas devem ser feitas direto a elas; as empresas argumentam que estão dentro da lei e, como enterrar seus cabos custaria 10 vezes mais caro, é coisa para governos.
E nem os governos lembram disso em suas obras novas. No corredor de ônibus da Protásio Alves, já reconstruído várias vezes, os cabos que alimentam os semáforos também se penduram de um lado para o outro. Já que a cada seis meses arrancam de novo todo o concreto, custaria muito instalar um conduíte para tirá-los de circulação?
Resolver o problema nunca foi prioridade porque ninguém quer se incomodar demais em mudar uma cultura. Os governos evitam cobrar das empresas, concessionárias não investem mais pesado em um sistema mais confiável, vereadores e deputados jamais colocam a mão neste vespeiro, a população não mexe uma palha.
É o jeito que escolhemos para desenvolver nossas metrópoles. Considerando que estamos no século 21, bem depois da última vez em que hordas ameaçaram cidades, viver sob condições tão precárias de segurança pode muito bem ser definido como barbárie.