A volta do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) às atividades parlamentares, depois de ter sido preso por flagrante tentativa de facilitar a fuga de um criminoso, desmoraliza o Senado e eleva a descrença dos cidadãos no Legislativo, que já tem o presidente da Câmara respondendo a processo de cassação por mentir a seus pares. No momento em que a Operação Lava-Jato promove uma faxina nas relações entre o governo e o setor privado, o Congresso está devendo uma autodepuração, que afaste as laranjas podres e devolva a confiança dos brasileiros nos seus representantes na Câmara e no Senado.
Só no âmbito da Lava-Jato, há 13 senadores de partidos da base sob investigação. Entre esses parlamentares, inclui-se um político que, até ser preso por quase três meses, era líder do governo e que, pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), está habilitado agora a reassumir até mesmo as atribuições de presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Por mais que deva ter assegurado o acesso à ampla defesa e ao devido processo legal, o parlamentar petista não preenche mais as condições mínimas para representar os interesses dos brasileiros no Senado.
Ainda assim, fora do âmbito do Judiciário, é improvável que o país se veja livre de imediato desse constrangimento ético. O PT, que havia suspendido sua filiação por 60 dias, ainda não se manifestou em definitivo sobre o caso. E o Senado tem uma instância à qual compete se pronunciar diante de impasses como esse - o Conselho de Ética -, que ainda não decidiu sobre o pedido de cassação, por quebra de decoro parlamentar, encaminhado por representantes de dois partidos políticos. A omissão, num caso de tamanha gravidade, só ajuda a desgastar ainda mais a política e compromete a qualidade da própria democracia.