Não é preciso repetir que vivemos uma crise na segurança pública. As manchetes deixam isso bem claro. O que precisamos é buscar soluções, analisando as razões de tamanha insegurança. Há causas imediatas, como o efetivo insuficiente e a histórica falta de investimento em equipamentos e estrutura para o combate ao crime. Mas o que vivemos hoje possui causas mais profundas, estruturais, de ordem ideológica e fisiológica.
A defesa ideológica da impunidade resulta no abjeto "prende-e-solta". Trata-se da justificação social do crime, bandeira recorrente em nossa esquerda. Entende-se que o crime é resultado da pobreza, cometido por meras "vítimas do sistema". Isso é um equívoco - e enorme preconceito, pois, afirmar que a delinquência advém da pobreza é chamar boa parte da população de delinquente. É preciso virar as costas à realidade para não perceber que, apesar da baixa renda, o povo brasileiro é honesto. E, se boa condição financeira fosse suficiente para acabar com o crime, a Papuda não estaria cada vez mais lotada.
Outro aspecto do problema é de natureza fisiológica. Há décadas, o RS gasta boa parte do que arrecada com áreas secundárias. Exemplo: optamos por manter uma gráfica e uma companhia de silos e armazéns. Estas e outras estatais aumentam os gastos, atrapalhando as reais prioridades. O critério de alocação de recursos deixou, há muito, de ser o melhor atendimento dos serviços básicos de segurança, educação e saúde e passou a ser o atendimento de interesses corporativos e sindicais. Basta comparecer à Assembleia em dia de votações importantes para encontrar categorias exigindo aumentos de suas fatias no orçamento - e sendo atendidas.
Crimes resultam de más decisões pessoais - e devem ser punidos. E a falta de critério e responsabilidade para com os gastos do dinheiro dos pagadores de impostos já passou dos limites. Para resolver a crise da segurança, é preciso enfrentar o sucateamento das polícias, o fisiologismo estatal e o ideologismo político. Tudo com um bom choque de realidade.