Este é o conceito de 2016 da escola de samba com a qual vou desfilar na avenida de domingo (7) para segunda (8) às 2h25min, aqui em Porto Alegre.
O convite me veio surpreendentemente já pertinho do desfile. Mas eu aceitei.
Aceitei porque o tema tem tudo a ver com aquilo que tem povoado a minha vida: o alfabeto, a leitura e a escrita.
Minha mãe foi aluna de Ana Aurora do Amaral Lisboa, poetisa de Rio Pardo, que escreveu uma poesia intitulada Letras do A B C. Com meus quatro anos de idade, eu me apresentava em público, em Santa Maria, cantando a poesia, cujo refrão era:
Somos a base do progresso
Somos as letras do A B C
Outra experiência muito marcante para mim é que, estudando na escola pública Olavo Bilac, tive no 1º ano do Ensino Fundamental, no colega que se sentava ao meu lado, um menino bem pobre. Ele vendia tempero verde na feira, numa cestinha, enquanto eu ia à feira na qualidade de compradora. Pois, para minha surpresa e inveja, ele aprendeu a ler e a escrever primeiro do que eu. Desesperada, eu lhe perguntava: "Como é que tu fazes para saber?" E ele me respondia: "Não é difícil. Tu também vais conseguir".
Este fato foi fundamental para me levar a compreender que "todos podem aprender" e que classe social não se hierarquiza por inteligência.
Graduei-me e fiz mestrado em Matemática, que adoro. Mas, no afã de ensinar matemática em escolas públicas, propósito do Geempa, deparei com o fato de que, nelas, o problema central era e é a não alfabetização.
Grupo de pesquisa que se preza pesquisa o que é útil para a sociedade. E a sociedade escolar, que incluíra as classes populares, precisava que se encontrasse um modo de alfabetizá-las.
Sem deixar a matemática, na qual fiz minha tese de doutorado, me debrucei apaixonadamente sobre como alfabetizar, à luz do que há de mais novo nas ciências do aprender, porque ler é fundamental.
A razão da minha participação no desfile de Carnaval, com os Acadêmicos da Orgia, é a bela escolha, pela Escola de Samba, de tema sensível e engajado com a vida.