Fernanda Takai é uma viagem. Filha de mãe natural de Maceió e pai descendente de japoneses vindos do interior paulista, a cantora passou grande parte da infância na Bahia, mas resolveu fincar o pé mesmo em Minas Gerais.
E se despertou o interesse pela música na terra de Gil e Caetano Veloso, teve o contato com violão, cifras e escalas só em Belo Horizonte.
- Sou quieta e, quando cheguei em BH, era muito diferente: tinha sotaque baiano, meu sobrenome era japonês em uma cidade em que quase não havia japoneses... Aí, minha mãe achou que a música seria uma boa forma de socializar - relembra, com a inconfundível voz doce.
Aos 14 anos, começou a compor as primeiras canções, mas seguiu encarando a arte como hobby. Precisou se formar em Relações Públicas pela UFMG para entender que seu negócio mesmo era outro:
- Entrei na faculdade com a convicção de que teria minha carreira na comunicação, mas a música continuava lá. Até que percebi que a música começou a ocupar muito espaço na minha vida. Eu trabalhava com planejamento e redação em uma agência de publicidade, e era difícil conciliar, porque lá eu tinha horário para entrar, mas nunca para sair.
Naquela época, Fernanda era cliente da loja de instrumentos musicais de John Ulhoa - que veio a se tornar seu marido e parceiro profissional -, onde trabalhava Ricardo Koctus, baixista do Pato Fu.
- Mostrei minhas músicas, e o John quis montar uma banda que fosse um trio, sem baterista, em que todo mundo cantasse.
Foi meio sem querer, né? - conta.
Inquieta, a cantora já foi cronista de dois jornais (Estado de Minas e Correio Braziliense), lançou três livros e três discos solo em paralelo com a banda, além de ser mãe de Nina, nascida em 2003. Sempre em busca de colaborações, já compôs e se apresentou com músicos de diversos países, como a californiana radicada no México Julieta Venegas, o britânico Andy Summers, do The Police, e Maki Nomiya, da japonesa Pizzicato Five - só para citar alguns. Desta forma, conheceu os gaúchos Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, quando a dupla se apresentou com Tangos & Tragédias em Belo Horizonte.
- Eu e o John fomos assistir ao espetáculo pela primeira vez, e achamos tão legal que perguntamos se eles não queriam gravar com a gente. No dia seguinte, foram ao nosso estúdio e, depois, extrapolamos a afinidade artística e ficamos amigos.
A amizade trouxe Fernanda mais uma vez a Porto Alegre, para se apresentar no Theatro São Pedro com o espetáculo Nico, a Grande Atração, show que pretende manter vivo o legado do artista.
São situações como esta que levam a artista a crer que a música é quase uma entidade:
- De todas as artes, é a mais mágica. Se você gosta de uma música, pode ser em inglês, francês ou zulu, ela te encanta. Para muitos, é um dom, algo que está presente na vida e que sinaliza quando chegou a hora. Por isso, sou contra jogar tudo para cima, parar de estudar, e ficar só com a música. Não se pode colocar prazo. A música não gosta disso.