O envolvimento de adolescentes com a criminalidade tem sido foco de preocupações e debates por parte das diferentes esferas de governo e da opinião pública brasileira. O 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em 2015, traz dados sobre quais foram os atos infracionais praticados por adolescentes no Brasil e registrados pela polícia. Predominam o roubo, que representa 42% do total no ano de 2013, seguido pelo tráfico de drogas, com 24,8%, e pelo homicídio, com 9,2%.
O Anuário apresenta também dados sobre a relação entre homicídios esclarecidos e homicídios praticados por adolescentes, nos anos de 2013 e 2014, ficando estes últimos em torno de 10% do total. Se por um lado se percebe que o percentual não é irrelevante, por outro fica demonstrado que a contribuição de adolescentes para a taxa total de homicídios no Brasil é pequena, e talvez seja menor do que isso, já que somente em torno de um décimo dos homicídios são esclarecidos.
O tema do envolvimento de adolescentes com a criminalidade violenta se apresenta como um problema social no Brasil desde o início do século 20, quando a presença de adolescentes nas ruas da cidade e seu envolvimento em contravenções e crimes passaram a chamar a atenção e a gerar debates, pressionando as autoridades a buscar soluções. Nas últimas décadas, o domínio de facções criminais sobre áreas urbanas, motivado pelo controle de mercados ilegais e pelas condições carcerárias, produziu uma nova cultura da violência, em que conflitos de diversas ordens são resolvidos por meio das armas, e permitiu a arregimentação de grandes contingentes juvenis em busca de renda e reconhecimento.
O desafio de desarmar a espiral de violência em que jovens brasileiros matam e morrem passa por enfrentar a pouca efetividade dos direitos legalmente assegurados para a juventude no Brasil, sistematicamente violados. Talvez porque esses jovens habitem os espaços do não direito, ainda muito pouco tem sido feito para interromper ou prevenir tal tragédia. Não se trata apenas da indiferença frente à violação do direito à vida, o mais fundamental de todos os direitos, mas também da atitude de conivência frente a certas práticas punitivas, da falta de um sistema de ensino integral e de qualidade, da ausência de políticas públicas efetivas de atenção à juventude, muito mais vítima do que autora da violência social.