O indiciamento, pela Polícia Federal, de executivos das mineradoras Vale e Samarco, investigadas por crimes ambientais no rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, demonstra que as instituições não estão se omitindo em relação à tragédia. Não há como reparar os danos provocados pelo desastre sem que os responsáveis pelas empresas sejam enquadrados pelas leis. E a reparação será incompleta se não contemplar a indenização das famílias atingidas, o que, aliás, deve ser a primeira providência entre as tantas que estão sendo encaminhadas pelo Ministério Público e pela Justiça.
É assim que as instituições fazem a sua parte, em meio a dúvidas sobre a intenção das empresas de oferecer a justa contrapartida aos atingidos pelos prejuízos que causaram. São questões sociais e morais, às quais se juntam agora as atitudes de quem tenta tirar proveito da situação. É lamentável que a desolação na região de Mariana se preste à ação de estelionatários que escolheram a área atingida para aplicar golpes. Incluem-se nesse caso as pessoas que se aproveitaram da ajuda financeira assegurada por uma mobilização internacional e realizaram até mesmo o furto de máquinas e equipamentos usados na retirara da lama.
Em outro episódio, grupos se articularam para tentar furtar o dinheiro doado às vítimas como ajuda emergencial, fraudando cheques que viabilizariam os saques. São exemplos que se somam a tantos outros, não só em Minas Gerais, e que vitimizam famílias em situação de vulnerabilidade, abaladas financeira e afetivamente pela perda de bens e dos próprios lugares em que viviam. É cômodo atribuir tais fatos a personagens distantes de todos nós, como se esse fosse um caso isolado. Os flagrantes de esperteza e delinquência sob investigação em Minas apenas repetem o que se registra, em circunstâncias semelhantes, em todo o país. Esse é o tipo de prática, infelizmente arraigada, cujo combate depende menos das autoridades e mais de uma atuação firme e continuada por parte das comunidades e seus mecanismos de defesa. Os saqueadores de Mariana não são um fenômeno mineiro.