Desde 1º de janeiro, os texanos podem andar armados na rua, como se estivessem de volta ao faroeste. Recuperaram um direito perdido em 1871. O ano é importante para que se tenha noção do retrocesso. Em 1871, o governo americano declarou que a racista Ku Klux Klan era uma organização criminosa. A KKK foi tornada oficialmente ilegal.
Pois a KKK está ativa de novo no Sul, tão atuante quanto Donald Trump, o fascista assumido que pretende mandar nos Estados Unidos. Trump deixou de ser uma aberração para ser a expressão das ideias da maioria republicana, como provam as pesquisas.
Andar com arma na cintura foi um direito aprovado pela turma dele no parlamento texano em 2015. Se permitissem que os republicanos revisassem todas as leis, o sul dos Estados Unidos poderia, quem sabe, voltar a ser escravista.
Nada é improvável onde a democracia serve também para que tolerem tudo que envolva armas - como as guerras contra quem sugerir que vai puxar o gatilho antes deles.
Barack Obama é inimigo declarado dos armamentistas. Vem sendo acusado de usurpar o poder do Congresso por decretar restrições à venda de armas. Na terça-feira, você viu na TV Obama chorar ao anunciar o decreto sobre maior controle na venda e posse de armas. Comerciantes e caubóis terão de comprovar bons antecedentes, entre outras restrições. Obama chorou ao falar das crianças mortas em massacres.
Como nada é improvável também no Brasil, o que acontece hoje no Texas pode acontecer aqui. Um projeto que facilita a posse de armas já passou em uma comissão especial da Câmara e vai para votação em plenário neste ano.
Obama teve de recorrer a um decreto para pelo menos tentar restringir a venda de armas, porque o Congresso rejeita qualquer iniciativa que tire dos americanos o direito de comprar revólveres na esquina. Pois aqui estamos nas mãos da bancada da bala no Congresso.
Imagine o brasileiro com armas em casa (só em casa?), ou resolvendo conflitos de trânsito, brigas de vizinhos, desentendimentos de machos valentes com suas mulheres. Imagine senadores e deputados armados (o projeto prevê o porte para parlamentares). Imagine a multiplicação do bangue-bangue no Brasil, porque a bancada da bala e seus financiadores não brincam.
Você está na mira deles e tem essas opções: abaixar-se, fugir, rezar ou organizar a reação enquanto é tempo. Rezar talvez não adiante muito, porque a bancada da bala também se diz muito religiosa. Imagine o que o diabo deve estar achando disso tudo.