A manifestação da presidente Dilma Rousseff em favor da reforma da Previdência, em sua primeira entrevista do ano, não pode se restringir a um mero aceno aos que cobram maior ação do Planalto no enfrentamento da crise econômica. Se não passar das intenções, o governo estará repetindo a postura de todas as administrações anteriores e reprisando o próprio comportamento sobre a questão. Em algum momento, os governantes se manifestam sobre temas cruciais, como é o da previdência social, sem que as declarações conduzam a atitudes substantivas. Acontece assim com todas as outras reformas - política, trabalhista e tributária.
Nenhuma dessas é mais urgente, no entanto, do que a reforma capaz de dar sobrevida a um sistema que em pouco tempo não protegerá os já aposentados e abandonará os que ainda trabalham e almejam um dia dispor do mínimo para viver. O déficit da previdência está projetado em pelo menos R$ 120 bilhões em 2016, por estimativa de técnicos do Tribunal de Contas da União. Não há como sustentar um modelo em que o número de contribuintes ativos decresce e o de beneficiários aumenta. Além disso, o Congresso, por imposição dos oposicionistas, em cumplicidade com governistas dissidentes, aumentou as despesas, ao extinguir, em momento inoportuno, o fator previdenciário.
O governo deve tomar a iniciativa e propor logo ao Congresso alternativas que passem, entre outras mudanças, pelo aumento da idade mínima para aposentadoria. Também podem ser levados em conta a igualdade de tratamento entre homens e mulheres em questões previdenciárias e o exame das chamadas fórmulas híbridas, que não excluam nenhuma possibilidade de melhoria no sistema. O Executivo não pode recuar, depois da declaração da presidente, sob o argumento de que este é um ano eleitoral, ou o adiamento de decisões acabará por sepultar um modelo que há muito tempo não se sustenta.