Os médicos, como quaisquer outros seres humanos, apresentam suas idiossincrasias ou seja, suas características comportamentais. Para os mal­ -intencionados, existe o Código de Ética que tenta conter seus ímpetos enquanto para os de boa fé, ele é praticamente desnecessário.
Para este último grupo, que creio ser a grande maioria dos profissionais, o risco advindo de sua conduta ética é serem utilizados como facilitadores da más ­práticas, verdadeiros inocentes úteis.
Senão vejamos: o atestado médico é um instrumento muito poderoso nas relações de trabalho e mesmo nas lides jurídicas. Comprova, mediante a identificação do médico que o emite, a real situação de saúde do paciente naquele momento, o que faculta a ele, paciente, não comparecer ao trabalho, a uma audiência na justiça e mesmo se aposentar, se assim o entender e o laudo possibilitar.
Tal instrumento pode ser mal­ utilizado, tanto pelos médicos como pelos pacientes. Para os maus profissionais, criando doenças fictícias e cobrando caro por isso e pelos pacientes simulando doenças também inexistentes para obter o benefício. Ora, quando um paciente se apresenta frente a um profissional fingindo uma lesão , muitas vezes é difícil para o médico distinguir o real do simulado, já que nestes casos o principal componente de suas queixas é a dor e para esta não existem parâmetros objetivos de avaliação. Medidas de avaliação da dor como alteração da pressão arterial, sudorese e alteração da mímica facial não são totalmente confiáveis pela particularidades de cada um.
Resta ao médico avaliador acreditar ou não nas palavras e nas reações do paciente ao exame clínico. Então, na maioria dos casos, para "não se incomodar", acaba fornecendo o atestado desejado pelo paciente desde que, obviamente, não ultrapasse o limite do razoável.
Faz­-se justiça desta forma aos honestos mas premia-se também assim os atores, os simuladores, os mal-­intencionados que nos usam para suas práticas desonestas. Aceitamos sugestões para sair desta arapuca.