O último boletim epidemiológico divulgado no final do ano pelo Ministério da Saúde sobre microcefalia é verdadeiramente aterrador: 2.975 casos suspeitos da doença em recém-nascidos de 20 Estados brasileiros. Trata-se de um surto alarmante, que requer uma mobilização de todas as áreas sanitárias. O combate ao mosquito Aedes aegypti - o mesmo que transmite a dengue, a febre chikungunya e o zika vírus, responsável por essa verdadeira tragédia na área de saúde pública brasileira - requer uma mobilização de todas as áreas sanitárias, mesmo durante o recesso dos poderes.
Se era impossível evitar esse pesadelo que hoje aflige famílias, particularmente gestantes, e deve prejudicar o futuro de tantas crianças, é certo que o país poderia ter evitado consequências de dimensões como as registradas hoje. O poder público, em grande parte, e também a sociedade foram negligentes sobretudo nas medidas de prevenção. O governo falhou ao se descuidar de ações de vigilância epidemiológica que deveriam ser permanentes. A população contribuiu para o agravamento da situação ao persistir em hábitos perniciosos como os que dão margem à transmissão do zika. Entre eles, estão o descaso com a água domiciliar e o manuseio inadequado do lixo.
Neste momento de crises múltiplas, incluindo a política e a econômica, o país precisa atentar para o problema, fazendo o necessário para evitar seu agravamento. O combate ao mosquito transmissor da doença tem de ser implacável, mesmo em época de descontinuidade no setor público, que precisa redobrar a atenção às potenciais vítimas.