Os liberais gaúchos, tão zelosos dos livres mercados, desde que não derrubem seus biombos, deveriam conhecer os táxis do Peru. É tudo liberado, bem ao gosto de quem detesta regulações - mesmo que apenas na discurseira.
Durante uma semana, andei nos táxis de Lima e de Cusco. Os peruanos se dedicam há muito tempo ao mercado libre y suelto que o Uber tenta disseminar pelo mundo. E ninguém sai no soco.
Sobram táxis nas ruas de Lima. Você pode exercitar o antigo costume de ficar à beira da calçada e fazer o sinal com a mão, durante o dia ou tarde da noite, algo inimaginável há muito tempo em Porto Alegre.
O táxi estaciona e se negocia a corrida na conversa pela janela. Não há taxímetro. Me informei no hotel sobre preços médios dos trajetos que pretendia fazer. Do hotel em Miraflores, até o centro do mesmo bairro (dois quilômetros), deveria pagar no máximo cinco soles. O dinheiro deles e o nosso quase se equivalem. Um sol custa em torno de R$ 1,10.
Você ouve a proposta do motorista, aceita ou começa a regatear. É do jogo. Se a negociação fracassar, ele segue em frente, mas logo outro estaciona. E assim vai, até o acerto. Uma corrida de Miraflores ao centro histórico de Lima (uns 10 quilômetros) custa de 15 a 20 soles.
Na média, uma corrida sai pela metade do preço de Porto Alegre. Os táxis são movidos a gás e a gasolina. A gasolina é um pouco mais barata do que a brasileira (algo ao redor de R$ 3,50). Os preços de restaurantes, lojas de roupas e de artesanato também são muito parecidos com os nossos.
É assim também em Cusco, a Ouro Preto deles. Uma corrida de 15 quilômetros, do hotel da periferia de Cusco à estação de trem que leva à Machu Picchu, custa 25 soles.
Em quase 20 corridas, nas duas cidades, ouvi apenas duas propostas exorbitantes. Há carros com os clássicos luminosos de táxi e há clandestinos. Alguns novos, a maioria velhos, muitos caindo aos pedaços. E cresce o número de carros do Uber - só um pouco mais caros, segundo porteiros do hotel.
Todos se entendem no trânsito caótico de Lima. Há uns 10 anos, implantaram o taxímetro na capital. Durou apenas um ano. Apesar da cordialidade dos motoristas, às vezes a sequência de negociações à beira da calçada é cansativa.
Mas dá saudade do livre comércio dos táxis peruanos logo no retorno a Porto Alegre. Do aeroporto até onde moro (22 quilômetros), desembolsei R$ 65. Senti mais falta de ar do que na altitude de quase 4 mil metros da periferia de Cusco. O livre mercado custa caro no Brasil.
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Kim Kataguiri, aquele moço que em maio levou 12 pessoas numa marcha a Brasília, para derrubar o governo, anuncia que vai assumir a liderança de rua do processo de impeachment. Kim é um dos chefes do Movimento Brasil Livre.
A política ficou tão patética no Brasil que até o líder de uma marcha de 12 criaturas se anuncia como guia jovem da tentativa de golpe. Como se indagou um colega dia desses: o que o Brizola diria disso tudo?