Por mais errático e incompetente que seja o governo de Dilma Rousseff, não há como acreditar que o impeachment da presidente livrará o país da crise econômica e institucional se os agentes que lideram esse processo de virada são diretamente beneficiados.
Eduardo Cunha só deu prosseguimento ao pedido de impeachment porque tenta desesperadamente barrar o processo de cassação do seu mandato. Mantendo o Congresso, o Planalto e o país ocupados com a discussão do afastamento da presidente, imaginava ganhar uma trégua.
Michel Temer ficou calado por quase cinco anos, apesar do "menosprezo" da presidente - conforme relatou em carta enviada a ela. Decidiu trazer à tona toda a sua mágoa quando o impeachment de Dilma passou a ser uma realidade e a sua ascensão ao cargo de presidente, idem.
Cunha e Temer são duas das maiores lideranças do PMDB, partido que é a síntese do anacrônico sistema político brasileiro. O PMDB nunca foi um partido, e sim uma frente, na qual coabitam grupos independentes, com interesses e causas próprias. Essa característica é uma herança do bipartidarismo instituído pela ditadura. A Arena - o braço político dos militares - abrigava os apoiadores convictos do regime. Aos que discordavam, restavam duas alternativas: entrar no MDB ou ficar na clandestinidade.
Com a redemocratização e a volta do pluripartidarismo, cada político teve a oportunidade de escolher o seu próprio caminho ideológico. Siglas foram criadas - como PT e PDT - ou resgatadas - como PTB, PC do B e PSB. Já o MDB virou PMDB. Nele permaneceram políticos que se destacaram no combate à ditadura, como Ulysses Guimarães e Pedro Simon. Porém, uma parcela considerável também permaneceu por conveniência política e eleitoral.
E é justamente por atuar como uma frente que o PMDB consegue ser tão elástico, ao ponto de conseguir a façanha de ser governo e oposição ao mesmo tempo. Hoje, ninguém governa sem o PMDB. Portanto, nenhuma reforma política será feita enquanto ele existir.