Algumas eleições entram para a história política de seu país, de um continente ou do mundo todo. As eleições que ocorrerão na Venezuela no domingo (6) estão nessa categoria. As pesquisas apontam que o governo de Maduro sofrerá uma derrota e perderá a maioria no parlamento, enfraquecendo o bolivarianismo em seu berço. Mais do que a derrota na Argentina, um fracasso na Venezuela seria um desastre para o projeto bolivariano do Foro de São Paulo (uma aliança de partidos e organizações de esquerda em todo o continente latino-americano fundada por Lula e Fidel).
O ambiente no qual o pleito ocorrerá é uma mistura de violência, falta de transparência e ameaça ao Estado de direito. No dia 25 de novembro, um líder da oposição foi morto a tiros em um comício no qual a esposa de Leopoldo López, preso político, discursava.
Uma semana antes disso, Maduro dissera que, mesmo que perdesse as eleições, "não entregaria a revolução", governaria "em aliança cívico-militar", e que "a revolução entraria em uma nova etapa" - uma clara ameaça de não respeitar as urnas e usar da força para seguir sua ditadura. Para que fique claro: só há Estado de direito e democracia quando o governante, eleito, se submete à lei - e Maduro nega-se a isso.
O TSE desistiu de mandar representantes brasileiros para acompanhar a delegação da Unasul, devido ao veto imposto pela Venezuela ao ex-ministro Nelson Jobim - o que faz crescerem as suspeitas de manipulação do resultado ou dos procedimentos eleitorais. Não há como assegurar a lisura da eleição conduzida em um ambiente desses, onde o governo parece ter algo a esconder.
Há apenas uma certeza: essa eleição será histórica, e seu resultado pode marcar a derrocada do bolivarianismo e do plano do Foro de São Paulo para a tomada do continente. Viajarei a Caracas para acompanhar as eleições como observador internacional, a convite da MUD - Mesa de la Unidad Democrática -, coligação de oposição a Maduro. Torço por eleições limpas, pacíficas e que, ao final, o Estado de direito, a democracia e a liberdade sejam vencedoras.