Independentemente das controvérsias jurídicas e das motivações políticas que o cercam, o processo de impeachment tende a ser demorado. Nada ficará resolvido até o ano que vem. Como o país não pode esperar tanto tempo para sair do imobilismo em que se encontra, é promissor o fato de lideranças do setor produtivo já se mobilizarem numa tentativa de convencer parlamentares a separar a questão política da econômica. Por mais adversas que pareçam as circunstâncias, líderes políticos e do setor privado têm, sim, condições e mesmo o dever de definir um rumo para o país, independentemente da decisão final a ser tomada mais à frente pelo Congresso.
A aprovação da nova meta fiscal para 2015 no mesmo dia em que o impeachment foi anunciado é um desses sinais alentadores, a começar pelo fato de que reduz os riscos de novas burlas no gerenciamento das contas públicas pelo governo. Assim é que o parlamento deve proceder, debatendo democraticamente o pedido de afastamento da presidente, como manda a legislação, mas tocando com responsabilidade uma pauta da qual depende em muito a agenda econômica.
O atual governo ou aquele que o suceder precisa se mostrar em condições de administrar e, principalmente, de contribuir para devolver aos cidadãos uma perspectiva de saída da crise, do desemprego e da inflação. Evitar a continuidade de uma recessão tão drástica quanto a de 2015 no próximo ano é um desafio de todos, não apenas de uma administração no auge da crise.
A hora é de responsabilidade, particularmente para quem tem o dever de discernir o que precisa ser levado adiante no âmbito político, com base na Constituição. E, simultaneamente, o que deve ser posto em prática, de imediato, na área econômica, pelo bem de todos.