Quatro meses. Esse é o tempo estimado pelo PMDB para tirar a presidente Dilma Rousseff do Planalto e varrer o PT do poder. O PMDB está sintonizado com a oposição oficial na estratégia de ganhar tempo para ampliar de tal forma o desgaste de Dilma, que seja possível criar um clima de unanimidade como em 1992, quando Fernando Collor foi afastado.
Da aceitação do pedido de impeachment feito pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em, 1º de setembro, até a votação, foram apenas 29 dias em 1992. Collor teve a má ideia de pedir que os brasileiros fossem às ruas no Dia da Pátria vestindo verde e amarelo, em protesto contra o que considerava um golpe contra o primeiro presidente eleito depois de três décadas sem eleição. Os jovens se vestiram de preto e formaram a onda que virou tsunami e tirou Collor do Planalto.
As diferenças entre o cenário de 1992 e o de hoje explicam por que a oposição não trabalha com a ideia de um processo tão rápido. Em primeiro lugar, não pairava, naquele momento, qualquer suspeita contra o presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro. À época do impeachment, ele contava com o respeito da maioria absoluta do Congresso e era forte candidato a presidente da República. Caiu depois, mas essa é outra história.
Hoje, o presidente da Câmara é um homem sem credibilidade, investigado por quebra de decoro na Comissão de Ética porque mentiu numa CPI dizendo que não tinha contas no Exterior.
A oposição embala Eduardo Cunha por conveniência e o PMDB o protege porque é um dos seus homens fortes, mas todos sabem que, com ele no comando, o impeachment perde força. Por isso, negocia-se, nos bastidores, um acordo pelo qual Cunha abre mão da presidência da Câmara e, em troca, tem o mandato preservado.
Outra diferença em relação a Collor é que ele não tinha partido nem base social. Dilma tem o PT, o PC do B, uma parte importante do PDT, e movimentos organizados, como a CUT e o MST. Esse bloco vai para a rua com o discurso de que impeachment é golpe. A aposta da oposição, ao empurrar a discussão para depois do Carnaval (ou da Semana Santa) é que a situação piore e Dilma se desgaste tanto, que as ruas acabem atropelando os partidos.