G.H.Chesterton, no O Jardim Secreto (A inocência do Padre Brown), sobre um personagem, afirma que "sua presença era tão grande quanto a sua ausência". Isso me levou a lembrar de Ulysses Guimarães.
Dr. Ulysses, no início da crise do governo Collor, não aceitava o impeachment: o risco para o país era grande. Admitiu o procedimento quando a revista Veja escancarou a entrevista de Pedro Collor. Lia-se informações sobre corrupção, PC Farias, desmandos etc. Avançava a CPI do caso.
Dr. Ulysses reuniu as lideranças do PMDB para decidir. Sustentou que era preciso garantir a governabilidade - o país deveria ser preservado. Tal garantia estava no apoio ao ministério de então.
Três ministros seriam o centro: Marcílio Marques Moreira, da Fazenda; Célio Borja, da Justiça; e Celso Lafer, das Relações Exteriores. Só assim Dr. Ulysses passou a admitir o início do processo.
As regras do processo eram de uma lei de 1950. A Constituição de 1988 havia modificado as competências anteriores e atribuira:
- à Câmara dos Deputados, a admissão da acusação;
- ao Senado Federal, o processamento e julgamento (O STF estendeu ao SF também a competência para a admissão!).
Ibsen Pinheiro, então presidente da Câmara, conduziu com maestria o ajustamento entre a lei e a Constituição e o procedimento de admissão da acusação. Havia diálogo para tudo. O respeito e a confiança imperavam.
Lá tínhamos crise econômica e política. Tal como hoje. Hoje, o que assistimos? A desconstrução de qualquer canal de diálogo.
O PMDB se estilhaça dentro da Câmara, onde líderes se alternam. O presidente do Senado choca-se com o presidente do partido, embora oculte, em entrevistas, esse fato. O Presidente da CD tenta evitar sua cassação e faz de tudo.
Os diretórios regionais do PMDB operam pelos seus interesses. O governo, com o ministro-chefe da Casa Civil, ataca o vice-presidente: "Quem trai uma vez, trai 10". Ironiza: "Continuará sendo vice-presidente da República. Acho que é tudo".
O governo toma decisões que são mais do mesmo - sem grandeza. Há algo novo na política: o ódio (E as certezas, causa de todos erros). A maioria, junto com a mídia, destila ódio, proíbe o diálogo, patrulha o entendimento e a razão.
A regra é o ataque, o desprezo e a desqualificação, pois são midiáticas. Volto ao Dr. Ulysses que dizia: "Em política, até a raiva é combinada ou fingida". A ausência do Dr. Ulysses é tão grande como foi sua presença. Para onde estamos conduzindo o Brasil?