O governo age certo ao definir logo a sucessão no Ministério da Fazenda, embora seja cedo para se saber no que resultará a indicação de Nelson Barbosa, até então no Planejamento, para o lugar ocupado por Joaquim Levy. Ainda assim, o país precisa ficar atento ao alerta do ministro que deixa o comando da economia depois de ter sido boicotado em suas intenções de ajustar as contas públicas e de promover reformas estruturais inadiáveis, como a da Previdência: "Ficar parado é o mesmo que andar para trás". Por mais que o governo federal enfrente uma crise política paralisante, e independentemente dos rumos do processo de impeachment, é óbvio que o país precisa encontrar, e logo, as condições para destravar a economia. E não conseguirá isso fazendo "mais do mesmo", como adverte o ministro.
Infelizmente, os brasileiros vêm arcando com um custo elevado demais pela insistência em erros grosseiros, que o ministro afastado agora não conseguiu corrigir por falta de apoio político, inclusive no próprio governo. Derrotado na questão fiscal, diante da insistência de uma ala da qual faz parte o novo ministro da Fazenda na opção por um superávit primário menor em 2016, Joaquim Levy não conseguiu aprovar as próprias reformas para as quais chamou a atenção ao deixar o cargo. Além disso, precisou sair em defesa até mesmo de uma CPMF à qual, por princípio, se opõe, e teve que se conformar com o envio ao Congresso de um inusitado orçamento deficitário.
De perfil político, com maior potencial de diálogo com o Congresso e com a sociedade, além de nome de confiança da presidente Dilma Rousseff, o novo ministro da Fazenda, substituído no Planejamento por Valdir Simão, tem como prioridade destravar a economia, promovendo uma retomada do crescimento sem se descuidar da austeridade. Não há outra forma de o país recuperar avanços que foram perdidos com o agravamento da crise econômica.
Nesse sentido, as lições deixadas pelo ministro que sai não devem ser esquecidas. Com sua defesa permanente da seriedade fiscal, a ponto de ter afixado uma placa em seu gabinete com o lema "Agora o Brasil só gasta o que arrecada", Joaquim Levy acabou com a "contabilidade criativa", de cunho populista, que tantos danos causou à nação. O país precisa crescer, mas sem se descuidar do rigor nas contas.