Concorde ou discorde
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Ainda causa repercussão e muita boataria no país a exoneração do comandante militar do Sul, general Antônio Hamilton Martins Mourão, autor de declarações de cunho político e de críticas ao governo, além de ter convocado oficiais da reserva para "o despertar de uma luta patriótica". Mourão, que também admitira uma homenagem pública ao recém-falecido coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, identificado como torturador durante o Regime Militar, foi transferido para um cargo burocrático na Secretaria de Economia e Finanças do Exército, em Brasília, por determinação do ministro da Defesa e integrante do Partido Comunista do Brasil, Aldo Rebelo _ o que reacendeu ranços ideológicos e potencializou o desconforto na caserna.
Embora o episódio tenha ressuscitado tanto o desejo quanto o temor de intervenção militar neste momento em que o país passa por inegável instabilidade política, tudo indica que a democracia sairá fortalecida desse teste. É o que se pode depreender de entrevistas concedidas pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, que faz questão de reafirmar o papel constitucional das Forças Armadas na garantia da estabilidade e da normalidade social. Ele lembra que as instituições democráticas estão sólidas e amadurecidas e que a atual crise deve ser solucionada sem quebra da normalidade institucional.
Um dos pontos mais interessantes das entrevistas é o reconhecimento por parte do comandante do Exército de que o país passa por uma crise ética. Ele lembra que quando as pessoas pedem providências ao Exército para solucionar a crise estão, na verdade, demandando os valores que as Forças Armadas representam.
Trata-se de uma interpretação sensata. Os problemas da democracia sempre devem ser resolvidos com mais democracia _ e não com soluções arbitrárias como equivocadamente algumas pessoas pleiteiam. O Exército tem normas disciplinares rigorosas, mas as normas maiores do país, que estão no texto constitucional e valem para todos, subordinam os militares aos civis. Diz claramente o artigo 142: "As Forças Armadas... destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem".
No Brasil de hoje, civis e militares têm um comandante comum: a democracia.
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