Marchas pela paz, com velas acesas nas mãos, são emotivas demonstrações de resistência contra a barbárie. Mas, fora boas imagens nos noticiários noturnos, não produzem nada de concreto para dar um fim ao terror desencadeado pelo grupo mais fanático e sanguinário de que se tem notícia no último meio século. Só o que resolverá o problema Estado Islâmico (EI) é o seu aniquilamento, completo e absoluto, para sempre.
Infelizmente, o esmagamento do EI deve ser conduzido pela força bruta das armas. É ingenuidade e perda de tempo, o que equivale à perda de mais vidas inocentes, imaginar-se uma saída negociada, pela via do diálogo ou do chamamento à razão. Depois de dois atentados em Paris e da possível explosão do Airbus russo sobre o Sinai, está claro que o EI deixou de ser um grupo radical de alcance regional para se tornar uma ameaça global, o que coloca sob alvo até mesmo a Olimpíada no Rio.
O grande dilema é como destruir o EI. O ataque à França, considerado um ato de guerra por François Hollande, aciona em tese a obrigação de defesa coletiva pelos países integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan. Ou seja, agora a guerra deve ser de todos os membros, Alemanha, Itália e Espanha incluídas. Como já ficou evidente, ataques aéreos podem atrapalhar a expansão territorial do EI e eliminar algumas lideranças, mas não impedem a desenvoltura do recrutamento e nem suas operações militares ou para além da Síria e do Iraque. Despachar tropas da Otan pelo chão, porém, embute enormes riscos. Prisioneiros ocidentais seriam troféus valiosos a serem usados como propaganda, barganha e humilhação das potências militares. O tiro poderia sair pela culatra.
Assim, antes que se caia no atoleiro administrado pelo califado do terror, é preciso esgotar as possibilidades de se avançar pelo norte com as já testadas tropas curdas, uma vez que as forças iraquianas seguem tão ineficientes como sempre foram. Ao mesmo tempo, é inevitável uma saída que passe pela negociação com Bashar Al-Assad, o ditador sírio. Um ditado árabe diz que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. E hoje Assad é um personagem menos malévolo do que o EI. É uma opção entre o ruim e o pior que nem seria grande novidade, uma vez que, na hora do aperto, as tropas do pai de Assad foram importantes aliados na coalizão que expulsou as forças de Saddam Hussein do Kuwait, em 1991.
Apoiado pelos russos, o regime sírio, que mostra uma resistência surpreendente, é que teria melhores condições de dizimar o EI. Mas precisa ser contido em sua ânsia punitiva contra os rebeldes, assim como o regime turco, que, entre uma prisão de jornalista e um ataque aos curdos, disfarça suas intenções com discursos contra o Estado Islâmico. O fundamental é que, antes que as tragédias se repitam passivamente, a estabilização da Síria, com os consequentes fim do EI e a interrupção do fluxo de refugiados, deve ser entendida como a prioridade número 1 do planeta.